Os meus filhos são socialistas II

Por Inês Teotónio Pereira
i-online 25 Maio 2013
Os socialistas padecem da mesma criancice. Se alguém fizer uma caricatura mais ousada de um qualquer histórico socialista, cai o Carmo, a Trindade e o Largo do Rato 

Os meus filhos não concordam comigo na comparação que fiz entre eles e os socialistas. Chegaram mesmo a ofender-se (percebo, foi chato). Eles reclamam que são responsáveis, que até ajudam, que até estudam e alguns até já perceberam de onde vem o dinheiro.
Os socialistas também se ofenderam por terem sido comparados aos meus meninos – o que não percebo: deviam agradecer-me por tal privilégio. Mas ficaram infantilmente furiosos.
Dizem os socialistas que os meus meninos são malcriados, irresponsáveis, inúteis e mimados. E que eles não. Eles são muito mais crescidos. E que também sabem de onde vem o dinheiro.
Mas ao fim de duas semanas continuo sem perceber a fúria infantil da esquerda.
Por isso, e perante a falta de um socialista com mais de dez anos com quem se possa conversar civilizadamente, expliquei outra vez aos meus garotos porque é que eles são socialistas. Inocentes, mais tolerantes, mas socialistas.
Expliquei-lhes que eles, tal como os socialistas e as restantes crianças, não têm uma pinga de sentido de humor: só se riem quando alguém escorrega numa casca de banana ou com as anedotas do menino Joãozinho. Pouco mais. São muito, vá, literais no humor.
Ora, os socialistas e toda a esquerda em geral sofrem da mesma infantilidade. É preciso explicar tudo, eliminar qualquer subtileza ou ironia, se queremos que eles entendam a piada. As piadas têm de vir com legendas ou uma nota explicativa. Com uma espécie de bula.
Além disso, os meus filhos choram quando são alvo de uma graça ou de uma piada. Se a piada é sobre eles ou sobre uma coisa da qual eles gostam, os miúdos choram. Não só não se riem, como fazem birra. Ofendem-se.
Os socialistas padecem da mesma criancice. Se alguém fizer uma caricatura mais ousada de um qualquer histórico socialista, cai o Carmo, a Trindade e o Largo do Rato. De cor-de-rosa, ficam vermelhos de raiva e saem rumo à Avenida de cartazes em punho, a gritar a favor da democracia e contra os seus inimigos – pois os socialistas acham que personificam a democracia, a liberdade e a tolerância. Por isso, não toleram críticas ou gracinhas.
Mas se a vítima do humor for um tirano fascista do PSD ou do CDS, já tem graça. Pois o humor não é uma coisa democrática, é pessoal, mais ou menos como o clube do Bolinha. Em minha casa acontece o mesmo. Também em minha casa os meus direitos de andar a dizer graçolas são bastante limitados. As crianças só acham graça quando a graça é com os outros. A tolerância e a igualdade humorística é qualquer coisa ainda deficitária.
Outra particularidade do socialismo dos meus filhos é o maniqueísmo. Os meus filhos acham que o mundo se divide entre os bons e os maus, os fixes e os totós, os velhos e os novos, os fortes e os fracos, os polícias e os ladrões. Só existe a bruxa e a fada. É tudo muito simples.
Os socialistas, infelizmente, concordam com os meus meninos. Nas suas cabecinhas existem os ricos e os pobres, os iluminados e os oportunistas, os sensíveis e os tiranos, os betos e o povo. A direita rouba e eles são roubados. A direita esfrega as mãos de diabólico contentamento cada vez que alguém fica desempregado, e eles, os justos, são os únicos defensores dos oprimidos.
Mas justiça seja feita, os meus filhos não têm a parte da arrogância moral, só a parte infantil do maniqueísmo. Também são mais educados e bem mais tolerantes. Por isso, a minha convicção é que o socialismo deles, tal como a falta de sentido de humor, não passará da adolescência. Garanti-lhes isso mesmo e os garotos ficaram, então, aliviados.

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