D. Manuel Clemente

FERNANDO SEARA
DN2013.05.24
1 Família. Escola. Igreja. Forças Armadas. Quatro instituições fundamentais da nossa sociedade. Quatro pilares de valores e de cultura. Quatro pilares de afetos e de partilha. Quatro pilares em que aprendemos a ser e a estar. Quatro pilares de um tempo intemporal, de aprendizagem sentida, de uma civilização milenar, de disciplina e de honra. Cada uma delas marcou a minha vida. "No mesmo berço se nasce e se morre." A escola, desde a pré-escola à universidade, ajudou-nos a crescer e a sentir os outros. As e os professores que nos marcaram. Os e as colegas que não esquecemos. Os e as amigas que descobrimos. Nas Forças Armadas, ontem no serviço militar obrigatório e hoje no convívio fraterno com tantos e tantas militares, reconhecemos a força da missão, a ética no serviço, a disponibilidade permanente, a consciência da responsabilidade. Todas elas passam por tempos difíceis. Todas elas sentem a crise que atravessamos. Mas elas são essência, excelência, transcendência, resistência.
2 A notícia da nomeação de D. Manuel Clemente como patriarca de Lisboa não constituiu surpresa. Ao contrário. Veio confirmar o que há muito se esperava. Independentemente da qualidade de muitos dos clérigos que hoje integram a Conferência Episcopal, a figura de D. Manuel conformava uma refulgente resposta à aspiração de revigoramento da diocese de Lisboa.
Evidentemente que nunca somos totalmente isentos quando falamos com os amigos. E eu sou amigo e profundo admirador do próximo patriarca.
Conheci-o há longos anos. Fomos ambos alunos dessa insigne instituição, que tem oferecido ao País uma notável elite cultural e académica, o Colégio Universitário Pio XII. Ali nos descobrimos, nas longas discussões de uma juventude apaixonada e vibrante, impulsionada por causas, pela descoberta da democracia e pela ânsia de liberdade.
Depois, D. Manuel partiu para o Seminário Maior de Cristo Rei dos Olivais, dando sequência à vocação serena, mas profunda, que o dominava. Um ano depois licenciou-se. Vivíamos os alvores da Revolução. D. Manuel permaneceu sempre igual a si próprio. Deu aulas na Universidade Católica de Lisboa e licenciou-se também em Teologia. Foi ordenado já com mais de 30 anos. Homem feito e de convicções firmes. O seu percurso académico foi brilhante, rematado com um doutoramento que fez brado.
Depois, iniciou as suas tarefas de presbítero, cumprindo sempre fielmente o que a Igreja lhe solicitou. Homem afável, de palavra fácil, dotado de uma inteligência superior e de uma cultura invulgar, sempre esteve disponível para todos, ilustrados ou ignorantes, ricos ou pobres, católicos, ateus, agnósticos, praticantes de outros credos. Foi, como é, um cidadão do mundo e do seu tempo, preocupado em compreender o homem na sua plurifacetada face.
O seu sorriso e olhar misericordiosos inspiram confiança e transmitem bondade. Com eles desarmou muitos "confrontos" que assumiu sem medo, mantendo-se fiel à sua fé e nunca renunciando a nenhuma das suas decorrências. O caso maior, e mais mediático, foi o seu debate com José Saramago, no qual exibiu à saciedade a sua fulgurante inteligência e a sua intangível tolerância.
Por tudo isto, D. Manuel Clemente é a escolha certa. É, principalmente, a escolha certa provinda do Papa Francisco. De um Papa do mundo e das gentes, como D. Manuel sempre foi e será um bispo do mundo e das gentes.
E são estas qualidades que, aliando a inteligência à cultura, a fé à misericórdia, conhecendo a caridade como virtude cristã maior, elevam a esperança no seu múnus.
Lisboa precisa de ser recristianizada. Ninguém como D. Manuel Clemente para tomar em mãos essa obra imensa.

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