Petróleo

PETRÓLEO


João Miranda
investigador em biotecnologia
jmirandadn@gmail.com


DN, 2008.05.17
O português urbano e sofisticado quer salvar o planeta das emissões de CO2 geradas pelo consumo de combustíveis fósseis. Os políticos promovem o hidrogénio, as eólicas e o fotovoltaico, e o português urbano e sofisticado, embevecido com o futuro idílico que o espera, acredita. Acredita que poderíamos passar sem petróleo, se ao menos existisse um bocadinho mais de consciência ambiental e de boa vontade.

A fé num mundo alternativo começa a desmoronar-se quando a realidade bate à porta sob a forma de um aumento do preço dos combustíveis. O aumento do preço dos combustíveis gerou uma pequena revolta nacional. Os críticos dos combustíveis fósseis desapareceram da paisagem política. Todos os partidos, do CDS-PP ao Bloco de Esquerda, exigem medidas de controlo de preços. Nenhum partido considerou que o aumento dos preços dos combustíveis é uma boa notícia para o ambiente ou uma oportunidade para promover o uso da bicicleta. Esta situação vem revelar que o interesse dos partidos políticos pelas energias alternativas é puramente retórico. Quando a realidade se materializa, manter a população satisfeita com gasolina barata é um objectivo muito mais importante do que salvar o planeta do aquecimento global.

A contradição entre a retórica e a realidade sugere que os problemas ambientais não vão ser resolvidos por políticos mas pelo mercado. O aumento dos preços do petróleo é um sinal de que o petróleo é um bem escasso que acabará por se esgotar. Os preços elevados são um incentivo ao desenvolvimento de alternativas realistas aos combustíveis fósseis. Se os preços dos combustíveis fósseis aumentam, os utilizadores têm um incentivo pa-ra consumir menos e poluir menos e os empresários têm um incenti-vo para investir em tecnologias alternativas. Ironicamente, os partidos políticos portugueses que se dizem defensores do ambiente, querem impedir a subida dos preços dos combustíveis. Se forem bem sucedidos, impedirão os agentes económicos de reduzirem as emissões de CO2 e de se adaptarem ao petróleo cada vez mais caro. |

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