Precisamos de espaço

Precisamos de espaço
PÙBLICO
18.05.2008, Vasco Pulido Valente


Um dia, em 1977 ou 1978, Diogo Freitas do Amaral, um jovem patriota de grande fervor, disse que um povo - como o nosso -, que tinha descoberto o caminho marítimo para a Índia, era com certeza capaz de descobrir o caminho para o desenvolvimento. Nunca me esqueci desta frase, porque, no fundo, se descobrimos o caminho marítimo para a Índia, foi precisamente porque não descobrimos o caminho para o desenvolvimento. Depois da Índia, veio do Brasil o ouro e o "Pacto Colonial"; e a seguir, ao fim de 50 anos de miséria e guerra civil, a banca comercial inglesa e francesa, que sustentaram a maior dívida externa da Europa (proporcionalmente, claro). Salazar preferiu a indigência, que, de resto, segundo ele, amansava e disciplinava o país. Com o "25 de Abril", chegou o dinheiro de Bruxelas (que não mudou nada) e voltaram a dívida e o défice.
Estas coisas sempre deprimiram os portugueses, que, como hoje tornou fatalmente a suceder, não gostam de estar na cauda da Europa e não percebem porque lá estão. Mas, se pensarmos bem, a explicação é simples. Para começar, e ao contrário do que secularmente proclamou a retórica literária e oficial, a posição geográfica isola Portugal do mundo. Nunca, evidentemente, "entrámos" no Mediterrâneo e, no Atlântico, uma potência pobre e pequena não podia aspirar a um papel duradouro e relevante. A "civilização" escorreu para cá muito devagar e com muito atraso. Apesar de uns nódulos por aqui e por ali, o país não se industrializou. E o primitivismo da produção doméstica (como a exiguidade do mercado interno) não permitia uma expansão comercial sólida. Vivíamos da terra, de alguns "negócios", da rapina.

A classe média, essa, vivia do Estado: do emprego, do subsídio, do privilégio, do subsídio. Era, e é, uma classe parasitária. Mudar a economia portuguesa implica mudar uma velha cultura. O que não se faz subindo ou descendo ou IVA ou o IRC. Ou com a panaceia do investimento público, que o "fontismo" no seu tempo inventou. Precisamos de espaço, de espaço físico e "espaço humano". Por outras palavras, precisamos de transformar Portugal numa sociedade cosmopolita e de esquecer as fronteiras, que nos sufocam e limitam. A única resposta à crise perene do país não é "nacional". A nova emigração já compreendeu essa realidade básica. E a "Europa", ou parte dela, compreenderá a seu tempo - e com a nossa ajuda - as vantagens da imigração.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

OS JOVENS DE HOJE segundo Sócrates

Hino da Padroeira

O passeio de Santo António