A BUS leva de quem dá até quem mais precisa

DN, 080526
RITA CARVALHO

Instituição recolhe bens essenciais e fá-los chegar a pessoas carenciadas
"Dão-nos de tudo. Até coisas do arco da velha." O desabafo é de Fernando Chaves que, em tom de brincadeira, aponta para o monte de argolas de guardanapos arrumadas no armário atulhado. Ao lado, louça, sofás, cadeiras, colchões e roupa de cama aguardam ordem de saída. Os post it colados nalgumas peças adiantam que o novo dono está quase a chegar. E que a BUS voltou a cumprir a sua missão.O nome BUS não é um estrangeirismo importado para dar um ar moderno à instituição. Mas a imagem de um autocarro encaixa bem no que faz a Bens de Utilidade Social: recolhe bens essenciais e leva-os até quem precisa. As recolhas fazem-se em empresas, hotéis e particulares que oferecem coisas novas, em segunda mão ou que não podem ser comercializadas. Os destinatários são instituições ou pessoas com carências avaliadas. A lógica é simples: a roupa de cama substituída num hotel pode suprir as carências de um lar, uma creche ou uma família em dificuldades."Recebemos tudo o que possa ser usado imediatamente pois não temos capacidade para arranjar. Mas não damos directamente às pessoas", explica o presidente da BUS. Só assim se garante a quem contribui que os bens não são revendidos ou mal utilizados e a ajuda é proveitosa. "Ainda não contactámos ninguém. A melhor publicidade junto de quem dá e recebe tem sido o palavra passa palavra."Pelas mãos e ombros de António e Zé Nik passa grande parte do trabalho da BUS. São eles que recolhem, transportam e organizam os bens no armazém, sob a orientação de Mariana, a terceira funcionária da casa, a braços com contactos institucionais e a gestão da lista de oferta e procura. "As coisas dão entrada no stock, são registadas e vemos quem precisa há mais tempo", diz a técnica, explicando que são as instituições que vão até à BUS. "Gerimos necessidades mas não somos burocratas quando se trata de melhorar a vida das pessoas", apressa-se a sublinhar o mentor deste projecto pioneiro, com quase dois anos. Se há urgências resolve-se o problema de imediato. "O ideal seria ter o armazém sempre vazio", diz Fernando, reformado e voluntário na causa. Seria sinónimo de eficiência e que não era preciso esperar para usufruir de bens básicos. Mas as instituições não têm transporte e demoram a levantar os bens.O sucesso da BUS também depende da boa vontade de terceiros. Aqui não há apoios estatais e as verbas vêm de donativos e quotas de sócios. Muito trabalho é assegurado por voluntários que vão conhecer melhor as instituições ou apoiam na gestão diária. António, Zé Nik e Mariana são os únicos assalariados; não há salário para directores nem ajudas de custo. "Definimos que não íamos ser uma empresa e que tudo funcionaria com espírito voluntário e de sacrifício", diz Fernando, que começou a acartar coisas com um amigo na carrinha da mulher e hoje gere uma obra que apoia 98 instituições.

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