O socialismo faz muito falta

O socialismo faz muita falta
PÙBLICO 20.05.2008, Helena Matos
De ideologia o socialismo passou a estratégia. Muito bem sucedida no que respeita a Portugal
Aos socialistas, naturalmente. Mas não só. Afinal, o que sobra dos partidos socialistas quando abdicam do "socialismo económico"? Esta pergunta ecoa na troca de textos entre Vital Moreira (PÚBLICO) e João Cardoso Rosas (Diário Económico). E esta pergunta integra muito daquilo que são as aparentes contradições de homens como José Sócrates. Não faço ideia se Sócrates é ou foi alguma vez socialista. Mas isso também já não interessa. O que interessa agora, nestes tempos de socialistas sem socialismo, é que Sócrates sabe bem que se estivesse em qualquer outro partido que não o PS jamais poderia exercer o poder da forma como o faz e gosta de fazer. Enterrado o "socialismo económico", o tal que se propunha atingir a igualdade através da estatização da economia, ser socialista tornou--se numa forma de exercício do poder que permi-te que, uma vez no Governo, os novos socialistas desvalorizem os meios em função dos fins, tal co-mo acontecia nos velhos tempos do defunto "socialismo económico". Mas não só. O facto de terem desistido do socialismo económico não quer dizer que os socialistas tenham desistido da economia. Antes pelo contrário, a economia interessa-lhes como nos velhos tempos. Perceberam simplesmente que não precisam de nacionalizar para controlar. Sabem que uma poderosa máquina fiscal devidamente coadjuvada por polícias de inspecção como a ASAE mete em respeito os empresários, sobretudo os mais pequenos, mantém tolhida a classe média e permite obter a receita necessária para manter uma rede tentacular e clientelar (no sentido romano do termo) do Estado. De ideologia o socialismo passou a estratégia. Muito bem sucedida no que respeita a Portugal. Senão vejamos: a 16 de Maio deste ano os portugueses celebraram o seu primeiro dia livre de impostos. Ou seja, trabalharam 136 dias apenas para cumprir com as obrigações fiscais e para a Segurança Social. Mas ainda terão de trabalhar mais um mês para conseguirem pagar na totalidade a factura dos encargos com o seu Estado. São 166 dias do nosso trabalho que entregamos ao Estado. Achamos pouco o que recebemos em troca? Bem, os novos socialistas não têm propriamente programa. Dizem apenas, como Vital Moreira, que procuram "maior igualdade e justiça social, que se reflecte em especial na política social, na política fiscal, na política educativa, nas "políticas afirmativas" de igualdade, etc.". Perante o vazio de tudo isto a pertença de esquerda acaba a ter de se afirmar nas matérias da privacidade. O que comemos, quanto pesamos, se podemos ou não fumar ou o casamento entre homossexuais são as novas bandeiras socialistas para conseguir separar ideologicamente aqueles que já não se distinguem a propósito das nacionalizações. O sanitarismo, o espaço do privado, o sexo e provavelmente a religião são as novas fronteiras ou o baldio disponível para afirmação dos socialistas sem socialismo. O senhor António Nunes da ASAE e os seus anúncios de que metade da restauração em Portugal tinha de fechar são o exemplo mais acabado e visível desta nova forma de ser socialista: não se nacionaliza. Faz-se uma inspecção e descobre-se um motivo para o encerramento do estabelecimento ou detenção do empresário. Se por acaso as coisas correrem mal a culpa é sempre dos funcionários, sobretudo dos mais fracos, e nunca do Governo. Porque esse nem tem ideologia: só quer o melhor possível para cada um de nós. Jornalista

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