Os caminhos do Homem
Isilda Pegado
Voz da Verdade, 20160612
1 – Saber, conhecer, fazer, modificar, criar, etc., são todos verbos que identificam muito do nobre agir do Homem, ao longo dos séculos.
O homem vive nesta vertigem que se gera entre o espanto perante o que existe, e o que deseja fazer e construir a partir da realidade. Hoje, essa vertigem está em larga medida entregue à Ciência e à Técnica. Nunca como hoje se trabalhou tanto na investigação científica em todas as áreas do saber. O que é Bom.
A medicina fez aumentar a esperança média de vida e proporciona cada vez mais qualidade de vida aos doentes. As engenharias proporcionam ao homem o uso de bens novos e de acesso fácil. As comunicações e informação transformaram o mundo numa rede universal. Os exemplos podiam continuar.
2 – Porém, este conhecimento moderno tem gerado desde o início do Séc. XX algumas preocupações Éticas. Na verdade, o saber, o agir e o modificar exigem uma reflexão quanto aos seus fins. Nem tudo o que se pode fazer será Bom. Fazer, só por fazer, não é caminho. A Natureza e muito em especial o Homem, têm características que lhes são intrínsecas e cuja alteração, pode pôr em causa o mundo e a humanidade.
Ou melhor, antes de fazer é necessário reflectir eticamente sobre os princípios e consequências da acção que se propõe levar a cabo.
3 – Desde os anos 50 do Séc. XX de uma forma sustentada, a Ecologia e a Bioética têm feito este trabalho de reflexão e ponderação de cada acto que tange com a vida Humana, apontando consequências, limites e soluções. Por toda a Europa e E.U.A. nasceram os “conselhos de Ética” e nas Universidades, estes saberes tornaram-se licenciaturas, mestrados e doutoramentos. Escreveu-se milhões de páginas sobre as matérias estruturantes ao Homem e à Sociedade.
4 – Porém, nos últimos anos estamos a assistir ao fim da Bioética, enquanto ciência que fazia a reflexão ética sobre determinado comportamento e apontava limites e caminhos para a Ciência. Nem tudo o que se pode fazer é bom para o Homem. Como diz a canção “sei que posso fazer tudo, mas nem tudo me convém”. E, a ciência e a técnica só serão boas, se servirem o homem. Nunca para o destruir.
5 – Hoje a Bioética parece ter dado lugar a um simples formular de questões acerca das matérias e, deixa a decisão, ao Poder político ou ao poder de alguns grupos de intervenção social.
Outras vezes, a Bioética embora denuncie as consequências do acto, deixa cair a sua intervenção, ou outros limitam a sua acção e peso específico.
6 – A autonomia de vontade, a decisão individual, o individualismo parece ter-se tornado o critério ético de decisão. Não há limites ao meu querer. O individualismo económico dos Séc. XIX e XX destruiu muito do planeta que hoje a ecologia tenta recuperar (florestas, espécies, animais, etc.). A sociedade, no Séc. XXI demite-se de um juízo colectivo sobre actos que põem em causa o Homem, a sua estrutura e o Bem Comum.
7 – Assistimos a esta forma de actuar com a recente aprovação, pelo Parlamento, do diploma que permite as chamadas “barrigas de aluguer”. O “Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida”, emitiu parecer crítico e negativo sobre a prática de tal acto, e ainda assim o Poder ditou que é admissível fazê-lo, porque cada um saberá o que é melhor para si. A lógica do individualismo.
8 – Será este o Futuro? Haverá limites? Quais os limites? E se com estes individualismos estivermos a caminhar para a destruição da Humanidade e do Homem? Quem define os limites? Que resistência nos fica?
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