Ficções científicas
João Pereira Coutinho | Correio da manhã | 12.06.2016
Na história pátria nunca tivemos um povo letrado e liberal. Ainda me lembro dos tempos em que uma pessoa estudava história e, pelos idos de 1383, apanhava com as interpretações marxistas do camarada Álvaro. A ‘revolução burguesa’ de 1383-85, dizia ele com impecável analfabetismo, tinha sido uma vitória das forças populares contra os ‘reaccionários’ de Portugal e Espanha. Dizer que esta interpretação é uma fantasia seria usar um eufemismo. Melhor avançar alguns séculos e ouvir Marcelo no 10 de Junho: o povo assumiu sempre ‘o papel determinante’ na história pátria? A coisa fica bem em dia de festa. Ou num editorial do ‘Avante!’. Infelizmente, não se ajusta ao que somos e fomos: uma criação das elites, ou seja, de um Estado que continua a ser, até hoje, o ‘motor’ do nosso subdesenvolvimento. Seria bom que o povo tivesse vigiado e punido os desmandos desse Estado. Mas isso seria acreditar que um povo letrado e liberal algum dia existiu no rectângulo.
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