Diante do Mal, Só o Bem Pode Salvar.

José Maria Duque
Nós os poucos, 2015.04.29

A notícia de uma rapariga de 12 anos que, após anos de abusos e violações pelo seu padrasto, se encontrava grávida de cinco meses, encheu o país de dor e revolta. Todo o drama nos parece incompreensível e inaceitável. 
Como é possível um adulto fazer tal barbaridade a uma criança? Mais ainda um adulto que tinha responsabilidades sobre a criança. Como é possível que a mãe não tenho feito nada? Como pode não ter reparado que a sua filha estava grávida? Como é possível que na escola só tenham reparado quando a gravidez já ia nos cinco meses? E os serviços sociais, que já tinham tirado a criança à família uma vez, como é que não fizeram nada antes? Os mesmo serviços sociais que são tão velozes a tirar crianças as mães só porque estas são pobres, como não repararam numa criança que já tinha estado ao seu cuidado e que foi violada durantes anos? E por fim, como é possível que um horror destes aconteça numa sociedade civilizada? Como é que a nossa sociedade é incapaz de defender as suas crianças?
E para estas perguntas não há nenhuma resposta que nos satisfaça. Nada pode justificar a destruição da infância de uma criança sem que ninguém tenha feito nada para a defender. Eu não sou capaz sequer de começar a imaginar o sofrimento desta criança de doze anos, que viu a sua vida desfeita pela violência e pela negligência dos adultos. Como poderá ela voltar a confiar em alguém, se todos aqueles que a deviam defender a atacaram e ignoraram?
Porém, o mal não se cura com o mal. O mal só pode ser curado pelo bem. Aquilo que a violência e a negligência destruíram não poderá ser reconstruído através de mais violência.
Tenho visto muitos comentários que defendem que a criança deve abortar, que é o melhor para ela. Eu contudo não percebo como é que a destruição de outra vida inocente pode ser uma ajuda para esta criança.
Sobretudo quando se sabe que fazer um aborto nesta altura é tão ou mais perigoso que o parto. Aos cinco meses já existe uma alta probabilidade de a criança sobreviver fora da barriga da mãe. A diferença entre uma criança de 5 meses, uma de 9 e um recém-nascido é peso e tamanho.
Por isso se o parto eventualmente pode representar um perigo, a verdade é que o aborto ainda mais, uma vez que inclui matar a criança e depois tirá-la de dentro da mãe.
Mas o que mais custa compreender é como é que é possível defender, com tanta naturalidade, a morte de uma criança inocente. Neste caso só há dois inocentes, a pobre criança que foi violada e a criança que se encontra dentro dela.
Como é que num país onde a Constituição afirma que a vida é inviolável é possível defender a morte de um inocente de cinco meses. Se no princípio da gestação ainda pode existir alguma confusão, dado que o bebé ainda não tem tudo que necessita para viver autonomamente, aos cinco meses ninguém tem dúvida de que se trata de uma vida humana.
De facto, existem crianças que nasceram aos cinco meses de gravidez. E que cresceram normalmente. A criança que está por nascer neste caso já tem cabeça, olhos, pés, mãos, pulmões, coração. Já ouve, já sente calor, frio, incomodo. Já sente dor!
Como é que a morte dessa criança pode trazer um bem para esta história tenebrosa? Como pode servir para curar a sua mãe-criança? Como é que morte de um inocente pode trazer justiça? Como é que num país onde não há pena de morte, o único que pode ser condenado a esse fim é o inocente?
Compreendo a dor e a revolta que este caso provoca. Mas continuo a afirmar que a única coisa capaz de curar o mal é o bem. Tentar curar a injustiça e a dor de que foi alvo esta criança de doze anos, com uma nova injustiça, com um novo mal, nunca poderá melhorar a situação. Se de facto a criança acabar por abortar, a sua dor e o seu trauma não irão encontrar consolo algum. O único resultado será que este horrendo drama irá produzir mais uma vítima.
P.S.: A imagem corresponde a um bebé às 22 semanas de gestação, o que equivale ao quinto mês.. A imagem foi retirado do site net-bebes.com.

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