O mundo está a mudar
José Maria C.S. André
Correio dos Açores, 2015.04.12
Pesquisei no «Google» a
frase «the world is changing» e recebi 700 milhões de endereços para consultar.
Parafraseando um político célebre, informo que ainda não os consultei todos
pela segunda vez, mas já tenho uma opinião sobre o assunto. O mundo está mesmo
a mudar.
Nesta Páscoa, há poucos
dias, baptizaram-se cerca de 3800 adultos em França e 2500 adultos no Reino
Unido. Um número maior de adultos já cristãos, anteriormente baptizados em
comunidades protestantes, foi recebido na Igreja Católica. Até na Europa, as
estatísticas começam a mudar.
Anda a correr pela Net o
vídeo da mensagem de Páscoa do Primeiro-Ministro britânico, David Cameron (somoriginal e legendas em português). Não é costume um
Primeiro-ministro ter alguma coisa para dizer na Páscoa, mas o mundo está a
mudar. Cameron veio declarar, rotundamente, que o Reino Unido é um país cristão:
feliz por acolher todos e conviver com todas as convicções religiosas mas,
apesar de tudo, um país de matriz claramente cristã. Sublinhou com força o
papel do cristianismo na vida nacional: «a igreja não é apenas um património de
lindíssimos edifícios antigos, é uma força vital e actuante». Onde há
desalojados, ou droga, ou sofrimento, onde a integração social é difícil, ou é
preciso promover a educação ou a saúde, aí aparece a Igreja. O seu papel na
arte e na cultura é imenso. Cameron chegou a falar, num registo mais pessoal,
do apoio que ele próprio recebeu, «nos momentos mais difíceis da minha vida».
Ninguém estava à espera de uma mensagem assim! Imagino que Cameron não entrou
numa fase mística, a questão é outra: o mundo está a mudar e os políticos são
os primeiros a perceber os novos ventos.
Outro dado solto. O sueco Ulf Ekman e a mulher Birgitta – ele, o pastor
pentecostal mais influente da Suécia e líder de uma enorme comunidade –
anunciaram há um ano, no sermão de Domingo, que se iam fazer católicos. Os suecos aborreceram-se? Nem por isso. Nem sequer acharam surpreendente. Stefan Gustavsson,
Secretário-geral da Aliança Evangélica Sueca, emitiu um comunicado a reconhecer
que Ekman tinha sido o líder protestante de maior relevo dos últimos 50 anos,
com grande impacto também no estrangeiro, e considera que o anúncio da sua
conversão «foi um gesto rico de calor humano e de humildade». Desejou a Ulf Ekman
e à mulher as maiores felicidades e as bênçãos do Senhor e explicou que a
Aliança Evangélica está muito satisfeita com as relações, cada vez mais
estreitas, com a Igreja católica, apesar das diferenças teológicas que
subsistem.
Quase ao mesmo tempo, outro
sueco, Lars Ekblad, também se converteu, depois de ser sido pastor luterano
durante quase 40 anos: «Quem escuta a voz do Senhor e quer segui-Lo, acaba por
se fazer católico».
Olho para outro lado, para
o Patriarcado Ortodoxo de Constantinopla, afastado da Igreja desde o século XI.
No dia 4 de Abril, numa entrevista à «La Civiltà Cattolica», o Patriarca Bartolomeu
I afirmou que «a sinodalidade [a união da Igreja] precisa de um “primeiro”: não
se entende sem ele, que é quem tem o carisma do serviço da comunhão. O “primeiro”
é aquele que procura o consenso de todos. E justamente esse é o ponto em que
verdadeiramente sentimos que o nosso irmão Francisco revelou uma liderança
extraordinária». Continua Bartolomeu I: «desde a eleição do Papa Francisco
sentimos que havia algo de especial nele: a sua integridade, a sua
espontaneidade, o seu calor. Este é o motivo pelo qual decidi participar da Missa
inaugural do Pontificado, em 2013». Foi a primeira vez que um Arcebispo de Constantinopla
esteve presente naquela ocasião na Igreja de Roma. Esta aproximação, cada vez
mais desejada por todos, poderá demorar, mas intensificou-se muito com Bento
XVI e está agora a tornar-se mais expressiva e calorosa.
Observo as estatísticas de
vários países. Por exemplo, em Itália o número de Confissões praticamente
duplicou, com a pregação que o Papa Francisco está a fazer sobre este
Sacramento.
O mundo está a mudar? Talvez
não mude na mesma direcção em todas as partes do mundo. Estão a chegar às dioceses
de Portugal padres enviados por dioceses recônditas da Índia (que chegam sem
falar uma palavra de português) e padres de Angola e da Polónia e de outros
países. Por exemplo, os padres brasileiros que estão a dinamizar com o seu
ardor missionário várias paróquias dos Açores.
Será que os cristãos do resto
do mundo conseguem que Portugal também mude?
O casal sueco Birgitta e Ulf Ekman – ele, o pastor
pentecostal mais influente da Suécia.
O sueco Lars Ekblad, quando era pastor luterano.
Mensagem de Páscoa de David Cameron na televisão
britânica.
Bartolomeu I: «O Papa Francisco é um líder extraordinário».
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