Os "bastidores" da humildade de Bento XVI
senzapagare, 2015.04.22
Mirticeli Medeiros in Canção Nova
Mirticeli Medeiros in Canção Nova
A verdadeira humildade não se vê...nem sequer nos jornais
Quem diria que aquele velhinho que diariamente, com a sua maleta, fazia a pé o trajecto do seu apartamento até ao trabalho, iria tornar-se o 265º Papa da Igreja Católica?
Quem diria que aquele velhinho que diariamente, com a sua maleta, fazia a pé o trajecto do seu apartamento até ao trabalho, iria tornar-se o 265º Papa da Igreja Católica?
Creio que para muitos, especialmente para os que moravam em Roma, foi uma surpresa vê-lo na sacada central da Basílica de São Pedro no dia 19 de Abril de 2005, após um dos Conclaves mais rápidos da História, tão rápido quanto o do nosso Papa Francisco.
Ratzinger disse, numa entrevista, nunca ter almejado cargos na Igreja e nem mesmo visado os “holofotes”, mas afirmou também estar à disposição desta mesma Igreja diante duma necessidade. No entanto mal sabia que tamanha disposição e desapego o levaria à Sé de Pedro.
Um Papa que na sua infância e adolescência viu os horrores da guerra, foi obrigado a deixar o seminário para alistar-se e, nesse tempo tão doloroso, foi alvo de chacota entre os soldados de Hitler, porque alimentava um imutável e concreto desejo: ser padre.
O Pontífice que ainda cardeal, ao ser chamado por João Paulo II para trabalhar no Vaticano, sentiu a dor de deixar sua terra natal, a ponto de querer expressar visivelmente uma vida de simplicidade e renúncia: “Tudo o que tinha era apenas uma mala, alguns livros e o necessário”, ressaltou.
Um homem que fez questão de cumprimentar cada um dos vizinhos do modesto apartamento que habitava antes de transferir-se para o Palácio Apostólico, a residência oficial do Santo Padre.
Um Sumo Pontífice que, ao ver uma criança com cancro numa das suas primeiras catequeses, fez o sinal da cruz também no ursinho que ela tinha nos braços, demonstrando que um Papa também é capaz de se baixar para entrar no universo dos pequenos – tal gesto levou um jornalista judeu a mudar a sua opinião sobre o Bento XVI.
Um papa que escolheu ser simplesmente Bento, o santo que no silêncio dum mosteiro devolveu à Europa a identidade perdida.
O pastor que, achando-se no fim da sua peregrinação terrestre afirmou em 2012 que uma certeza o motivava a ir em frente: “Deus é, Deus está”.
O Sucessor de Pedro que usou um relógio cobiçado por colecionadores mas que, para ele, tinha um valor que não poderia ser calculado por ninguém: era o relógio da sua irmã, que no leito de morte lhe tinha oferecido esta lembrança.
Um Papa que pouco antes de ser eleito, por causa da sua entrega à Igreja, não tinha tempo para fazer algo que gostava muito: passear por Roma. “Eu gostaria de ter uma qualidade de vida mais leve, raramente consigo chegar até a cidade”, disse.
Ele, apesar de ter feito tanto, não hesitou em sair de cena para que a Igreja pudesse seguir adiante, mesmo que isso lhe custasse a falta de reconhecimento de muitos católicos com falta de memória.
Bento XVI foi alguém que viveu uma humildade muitas vezes não captada pelas potentes câmeras de televisão, mas demonstrou aquilo que, um dia, o apóstolo das nações fez questão de frisar: “Convém que Cristo cresça e eu diminua”.
Rezamos por ti Bento XVI, o nosso Bento XVI.
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