O sufocante silêncio sobre a perseguição dos cristãos

José Maria Duque, Samurais de Cristo, 2014.08.21

Os acontecimentos dos últimos dois meses no Iraque e na Síria têm-nos deixado com uma sensação de sufoco.

Por um lado os relatos que nos vão chegando são absolutamente aterradores.  Dezenas de milhares de pessoas expulsas das suas terras, homens mortos através de meios bárbaros, mulheres violadas e vendidas como escravas, crianças abandonadas no deserto, Igreja ocupadas e saqueadas. Tudo isto parece tirado de um filme de terror de má qualidade.

Por outro lado, tudo isto se passa diante do silêncio do Ocidente. Lemos as noticias, vemos os telejornais, procuramos saber o que se passa com esses nosso irmãos mártires, mas nada. Apenas um enorme silêncio. Mesmo quando os jornais falam da situação do Iraque só ouvimos falar dos yazadi (também eles sujeitos ao terror do ISIS) ou dos xiitas. Mas aparentemente nenhum lider politico ocidental ou meio de comunicação reparou que já há mais de cem mil cristãos desalojados e um número ainda por apurar de mortos e de escravos.

E esta realidade é sufocante, aterradora. Saber que os nossos irmãos estão a ser perseguidos sem que ninguém se pareça importar, faz-nos quase chorar de raiva. Por isso revoltamo-nos, justamente. Acusamos o Ocidente de ignorar a perseguição aos cristãos, não só no Iraque, mas em tantas partes do mundo. Chegamos a usar a expressão "cristofobia" para designar esta indiferença pelos cristãos perseguidos.

Mas ao pensar nisto não posso deixar de pensar: então e eu? Que fiz eu por estes meus irmão? Porque se é verdade que a actual situação no Iraque é mais dramática do que nunca, também é verdade que a perseguição aos cristãos no Próximo Oriente não é propriamente uma novidade.

De facto, há onze anos, antes da intervenção americana, existiam no Iraque 1.300.000 cristão. Passados alguns anos só exisitam 300 mil, os restantes tinham fugido da guerra e da perseguição. E isto acontence e aconteceu um pouco por toda aquela região. Os cristãos, presos entre guerras e revoltas, sem nenhum lobby ou país poderoso que os proteja, acabaram por ter que escolher entre fugir ou ser mortos. Aconteceu na Terra Santa, no Libano, na Síria, no Egipto entre outros países.

E nós que fizemos e fazemos? Discutimos, resmungamos, escrevemos textos. Mas damos a este assunto a mesma atenção, ou ainda menos, do que às intrigas eclesiásticas. Quantas vezes perdemos mais tempo a discutir batinas ou o latim, do que com os cristão perseguidos? Que parte deste silêncio esmagador é culpa nossa?

E não vale a pena usarmos como desculpa a falta de meios (a eterna desculpa nacional de que até faziamos, mas ninguém quer). A verdade é que fomos desafiados vezes sem conta pelo Papa (quer pelo Papa Reinante, quer pelo Papa Emérito) a rezar pelos cristãos perseguidos. A verdade é que existem um sem número de instiuições católicas no terreno a quem podemos ajudar. A verdade é que existem várias agências noticiosas católicas que continuam a noticiar estas perseguições. A verdade é que têm havido manifestações na Europa por causa do Iraque, mas todas de apoio ao ISIS... E nós que fazemos? E eu?

Isto nada tira à injustiça que é o silêncio total do Ocidente sobre a perseguiçãos aos cristãos. Nem significa que nos devemos calar perante essa injustiça. Mas devemos também cair na conta de que nós, não sendo os autores dessa injustiça, temos sido sem dúvida seus cúmplices.

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