Música no Coração



Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada ionline 2014.08.16
Simon Cowell acabara de cochichar, para uma sua colega no júri do Britain's Got Talent de 2012, que é quando  as coisas correm mal que se tornam ainda piores. Não era, decerto, um bom augúrio para Jonathan e Charlotte que, nesse momento, pisavam o palco. Ela era normal, quase vulgar, mas ele, muito gordo, praticamente disforme, de aspecto trapalhão, com uma farta cabeleira despenteada, a escorrer pelos dois lados da cara, metia medo ao susto. Pior ainda era a sua timidez, com tiques nervosos tão evidentes que, se não fossem dignos de compaixão, seriam ridículos.
Mas quem vê caras, não vê corações. Quando irrompeu a portentosa voz daqueles dois jovens, de 16 e 17 anos, a desconfiança e até - porque não dizê-lo? – o desdém com que tinham sido recebidos, converteu-se em espanto e admiração. Jonathan parecia um novo Pavarotti e deixou literalmente boquiabertos os cépticos membros do júri, já rendidos às suas evidentes qualidades canoras.
A ovação soou, com estrondo, na sala apinhada, com muitos espectadores de pé. Uma  homenagem que era também um acto de contrição pela frieza do acolhimento inicial. O júri foi unânime nas felicitações aos dois jovens, mas sublinhando as excepcionais qualidades de Jonathan que, de puro nervosismo, contorcia-se e mordiscava os lábios. Simon foi um pouco mais longe, propondo-lhe que deixasse Charlotte porque, com ela, comprometia o seu êxito no concurso. Mas Jonathan foi peremptório: - Viemos para aqui juntos e é juntos que vamos continuar! Chegaram a ser, nesse ano, vice-campeões.
Jonathan não é apenas um portento musical, mas um exemplo de lealdade na amizade. Sem Charlotte, nunca teria chegado àquele palco e, por isso, agora que saboreava os louros da vitória, não a podia abandonar. Para além da grandeza física e artística,  há uma grandeza maior: a da alma. Quem a tem, tem música no coração.

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