Esquecer o nome dos bois
Raquel Abecasis
RR online 21 Abr, 2016
Chamar gestação de substituição às barrigas de aluguer faz parte de uma estratégia em que a semântica tem um papel determinante.
O Parlamento está a tentar legislar sobre a gestação de substituição.
Gestação de substituição? O que é isso? Não sabe?
Eu explico: é aquilo que é vulgarmente conhecido por barrigas de aluguer.
Mas então, pergunta-se: porquê dar um nome complicado a uma coisa que tem uma designação simples?
Faz parte de uma estratégia em que a questão semântica tem um papel determinante, ao ponto de chegamos ao ridículo de ter um ministro a embarcar na proposta do Bloco de Esquerda de alterar a designação de Cartão de Cidadão para Cartão de Cidadania. É que as mulheres estavam ofendidas porque cidadão é masculino.
É ridículo, mas não inocente, porque não há nada que melhor defina o que as coisas são do que a forma como falamos delas e a nova linguagem que nos está a ser imposta em nome de uma alegada conquista de direitos tem por objectivo aligeirar o vocabulário para descansar as consciências e introduzir na realidade o que é antinatural ou mesmo violento, de uma forma “soft”.
É por isso que o que parece apenas ridículo tem consequências irreversíveis para a sociedade e é por isso que é grave que nos últimos anos todos tenhamos embarcado no truque de chamar:
• Interrupção voluntária da gravidez ao aborto;
• Morte digna à eutanásia;
• Maternidade de substituição às barrigas de aluguer;
• Direitos humanos a acções que desrespeitam a vida humana;
• E género ao que dantes era sexo feminino e sexo masculino.
E assim, branqueando a realidade, vamos aliviando as nossas consciências, deixando de chamar o nome aos bois.
Com o passar do tempo, já não conhecemos os nomes, nem sabemos o que são bois.
Acabo, portanto, como comecei: o Parlamento está a tentar legislar sobre a gestação de substituição. Em português corrente, isto quer dizer que os deputados vão votar um projecto que pretende legalizar as barrigas de aluguer.
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