Os melhores

Joana Petiz
DN 20160107

Um mês e meio chegou para fazer tábua rasa de tudo o que mudou na educação nos últimos quatro anos. E no fim só há de sobrar o Inglês - que com jeitinho ainda pode ser alterado para começar mais cedo, por exemplo logo no jardim infantil. Não era mal pensado formar miúdos bilingues. E se alguém, enquanto bebe um chazinho, se lembra de como isso podia ser uma vantagem competitiva, fazer-nos subir num ranking qualquer, pode tornar-se realidade um ano destes. A manter-se a lógica que tem sido aplicada, basta um espirro e muda tudo. Sem pensar, sem estudar estratégias ou estabelecer objetivos, sem dar tempo sequer para permitir avaliar os efeitos do que se faz. E sem dar cavaco a ninguém - umas palavrinhas sobre os objetivos das mudanças a que os miúdos são sujeitos sempre que um novo ministro entra em funções talvez nos descansassem um bocadinho. Todas as reformas que nasceram e desapareceram sem deixar rasto, todos os exames impostos às crianças e eliminados um par de anos mais tarde, todas as metas curriculares estabelecidas e substituídas, melhoraram em alguma coisa a educação dos nossos filhos nos últimos 40 anos? Temos sequer forma de medi-lo? Em países como a Finlândia, sistema de ensino reconhecido como o melhor do mundo, também há reformas, mas estas são feitas em continuidade, são ajustes à grande reforma empreendida na década de 70 do século passado - em que a medida mais importante foi a descentralização do ensino. O governo manteve o comando das linhas gerais mas deu às escolas liberdade para escolher os seus projetos educativos. Municipalizar o ensino será a solução para Portugal? Talvez nunca o venhamos a saber - com Bloco e PCP a pressionar o governo socialista para tirar daí a ideia, será difícil. Mas pode nem ser preciso se antes de tomar decisões se fizer uma discussão séria e alargada sobre como podemos formar melhor os nossos miúdos, desde que se exija compromissos alargados nos pontos fundamentais, para garantir que a mudança não fica pelo caminho à primeira distração. Numa coisa, porém, devíamos mesmo copiar a Finlândia. Ali, os professores são um dos grupos de maior estatuto social, o seu papel é valorizado, mas também lhes é exigida grande qualidade - a seleção é rigorosíssima, o treino completíssimo e só os 10% melhores chegam a uma sala de aula para ensinar. Os finlandeses entenderam que o futuro das gerações está nas mãos dos professores. E encontraram formas de atrair a essa profissão os melhores dos melhores. O resultado está à vista.

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