Caríssima Assunção Cristas
Sebastião Bugalho | i-online 2016.01.13
Esta é a carta aberta de um independente.
Como cidadão, aprecio parte do CDS. Num país em que é pecado ser de direita, - basta ver a Constituição ou qualquer dos programas partidários - simpatizar com um partido chefiado por um homem como Paulo Portas é natural. O facto de a Juventude Popular ser a jota mais autónoma do seu partido faz com que lhe tenha uma maior tolerância. Como crente, a sua leitura dos costumes também me é favorável. Condeno a persistência de alguns carreristas e o abafar total do eurocepticismo. Tenho pena pela força da partidocracia e pela falta de pontes com a sociedade civil.
Penso que concordamos que o CDS-PP não se trata de um partido pequeno. Foi fundador do arco de governação, não de movimentos de protesto ou de plataformas extremistas. Trata-se do assumido partido do centro-direita português; não de um proto-liberal disfarçado de social-democrata ou de um proto-comunista mascarado de Bloco.
Soltei uma gargalhada quando li que a Assunção Cristas era a "candidata da continuidade" nesta corrida à liderança do CDS. Sorri quando li que Adolfo Mesquita Nunes, o louvado ex-secretário de estado, apelava a um "reformismo sensato" na renovação centrista.
Eu, como dizia um Benjamin Franklin ficcionado, sou um moderado radical e é assim que lhe escrevo. Um partido conservador também precisa de novidade. A senhora deputada é mulher, católica, mãe e jovem. Incarna um novo paradigma para um eleitorado que necessita de ser reconquistado.
Sei que não nos conhecemos pessoalmente, contudo, venho pedir-lhe um favor. Não nos dê balões de ar quente ideológicos, com muita cor por fora e ainda mais vazio no seu interior. Não se deixe cair na tentação de outra personificação do partido. Supere a estrutura partidocrática, até por não ser originária da mesma.
Peço-lhe, por outro lado e somente, que me dê crónicas para escrever. Material novo na política portuguesa. A história e as estórias de uma reforma para contar. Faça-a.
Consigo, não creio que a travessia a fazer seja por deserto algum. O país precisa de perceber que tanto o Estado Novo como a social-democracia não têm nada a ver com a direita.
Tenha a coragem de ser conservadora, sem ser reaccionária. De ser católica, sem ser fundamentalista. De ser liberal, sem ser libertária. De ser democrata-cristã, sem ser socialista.
Seja ambiciosa e nunca megalómana. Não esqueça o pragmatismo, nem caia na tecnocracia. Não se torne numa europeia conformada, nem pise caminhos extremos. Seja céptica, mas resista ao cinismo. Seja democrata, mas resista ao populismo. Respeite a tradição sem cegar por ela. Siga as máximas do gradualismo e não os riscos do experimentalismo. Os imediatistas, já escrevia Sun Tzu, têm uma curta esperança de vida.
Procure o meio termo virtuoso. Procure o equilíbrio de um partido que conquiste o centro sem ter que se chamar centro.
E, pelo amor de Deus, tenho a coragem de ser de direita. Porque Portugal precisa.
Cordialmente,
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