Um debate esclarecedor - o genuíno programa de Costa
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Corta-fitas, 17.09.15
José Mendonça da Cruz
O debate de hoje às 10 horas nas rádios entre o primeiro-ministro e o candidato foi muito informativo. Levantada a cortina da demagogia ficou à mostra o programa de António Costa, caso o deixem governar. Desta vez não houve fotografia do número 33, mas no número 33 deve ter havido um brunch eufórico, com aplausos entusiásticos a muitas das medidas de Costa. Eis, em estrito respeito das suas promessas, a tralha programática socialista:
«Inovação» - Costa pretende baixar o IVA da restauração e retirar dinheiro da Segurança Social para reabilitação urbana, e assim aumentar o emprego na restauração e na construção civil.
Isso é inovação?
É a inovação socialista: mais trolhas e empregados de mesa.
E fica a Segurança Social mais deficitária?
Fica.
Há garantia de que o emprego cresça na restauração?
Não há.
Então?
Então, depois vê-se.
«Crescimento» - Costa crê no «Estado empreendedor» e não crê nas empresas exportadoras. Por isso, pretende anular a reforma do IRC e desincentivar o investimento privado.
Esta orientação vai produzir agora os resultados que nunca produziu antes?
Não parece.
Então?
Então, depois vê-se.
«Inteligência» - Na esteira do que já antes João Galamba afirmara, Costa quer cumprir o Tratado Orçamental, mas diz ele, com «inteligência», ou seja, de forma a permitir «o investimento estruturante do Estado».
«O investimento estruturante do Estado» é assim como as PPPs, os novos aeroportos, o TGV, e a terceira e quarta autoestradas para o Porto?
É.
E isso não aumenta o défice e a dívida?
Aumenta.
Então?
Depois vê-se.
«Confiança» - Costa promete cortar 1000 milhões em apoios sociais.
Quais?
Ele não diz.
Segundo que critérios e escalões?
Ele não diz.
Então?
Então temos que ter confiança.
«Classe Média» - Costa promete rever os escalões do IRS para favorecer a classe média.
O que é e quais são os rendimentos da classe média para Costa?
Não sabemos.
Quem vai passar a pagar mais e a pagar menos com essa revisão?
Não sabemos.
E essa revisão não poderá afinal acarretar um aumento de impostos se a classe média for definida muito em baixo, e os escalões médios seriamente agravados?
Pode.
Mas como é que sabemos?
Não sabemos, depois vê-se.
«Paixão» - Costa promete recuperar «a paixão pela educação» de Guterres.
E as paixões de Guterres deram bom resultado?
Péssimo.
Mas esta agora é diferente, não é?
Esta agora consiste, segundo o programa e as mais recentes declarações de Costa, em tornar a escola «menos selectiva» e «mais inclusiva».
O que quer dizer isso?
Quer dizer que acabam as avaliações de professores e alunos, acaba a diferenciação do mérito, e toda a gente segue avante.
Mas isso não é aquilo a que uns chamam facilitismo?
É, mas é óptimo para as estatíticas. Ao fim de dois anos os resultados parecem óptimos.
E depois?
Depois, vê-se.
«Segurança»
Desculpe estas dúvidas que me ficaram, mas é mesmo verdade que o Costa quer financiar a Segurança Social com as receitas das portagens das PPPs?
É.
Mas as portagens não são deficitárias?
São.
Então como é que se financia as PPPs?
Não sabemos, depois vê-se.
E as receitas das portagens chegam para compensar o agravamento do défice da Segurança Social resultante desses «investimentos»?
Claro que não.
Então como é que se corrige o défice da Segurança Social e se garante as pensões futuras?
Costa recusa deixar-se arrastar para essa discussão extemporânea.
Mas não é uma discussão crucial?
É.
E então?
Então, depois vê-se.
«Um novo caminho»
É curioso que neste debate não se falou de Sócrates...
Pois não, não era preciso.
Porquê?
Porque as receitas de Costa são iguais às de Sócrates, só mudou o papel de embrulho.
E não podem levar à mesma bancarrota?
Claro que sim. Mas com vantagem.
Que vantagem é essa?
Temos um actor novo. Já não é preciso falar de Sócrates.
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