Há refugiados portugueses que também precisam de nós
Pedro Madeira Rodrigues
Estava esta semana a caminho do trabalho quando, perto da Praça da Alegria, uma jovem que teria idade para ser minha filha, perguntou-me se eu sabia onde era a Clínica dos Arcos (um estabelecimento oficial de propriedade espanhola onde se realizam abortos). Disse-lhe espontaneamente que se precisasse de ajuda podia contar comigo e com a da minha família e amigos. Ela afastou-se nervosa a dizer que não precisava de ajuda e fiquei parado a olhar para ela a entrar na Clínica. Ainda entrei e tentei-lhe dar o meu cartão-de-visita mas recusou no mesmo momento em que era encaminhada para uma “consulta”.
Numa altura em que temos a sociedade portuguesa (e muito bem) mobilizada na ajuda a pessoas que fogem para a Europa para poder viver, queria, começando por mim, que não nos esquecêssemos destes “refugiados portugueses”: as mães que vivem gravidezes indesejadas, tantas vezes abandonadas por todos e as vidas que carregam. Reconheço que se trata de realidades muito diferentes mas a nossa resposta pode ser semelhante.
Tal como os refugiados que para sobreviver precisam de ajuda para chegar à Europa e ser aqui apoiados para recomeçar a vida, as mães que vivem a aflição duma gravidez indesejada precisam de ajuda para sobreviver durante um período muito complicado e cuidar das vidas que têm dentro de si. Estas vidas, tal como a dos refugiados naqueles barcos frágeis, estão completamente indefesas e dependentes de ajuda para nascer ou dar à costa.
O Papa Francisco, que ao longo da vida “encontrou numerosas mulheres que transportavam no seu coração a cicatriz desta escolha difícil e dolorosa”, tem sido uma voz muito activa na defesa da inviolabilidade da vida humana e ainda pela necessidade de se absolver todos os arrependidos por terem participado no drama moral e social do aborto.
Este Papa pediu recentemente: “que cada paróquia, comunidade religiosa, mosteiro, santuário da Europa acolha uma família de refugiados”. Assim, gostava muito que este desafio que o Papa nos fez possa ser alargado para muitas mães e os seus filhos que precisam de ajuda num tempo particularmente difícil. Aqui lembro iniciativas louváveis como o Apoio à Vida (www.apoioavida.pt) e a Ajuda de Mãe (www.ajudademae.pt), entre outras espalhadas pelo país inteiro, que infelizmente ainda ficam muito àquem do que é preciso.
PS: Como estamos em período pré-eleitoral, lembro que houve recentemente uma alteração à lei que obriga nomeadamente ao pagamento de taxas moderadoras nos casos de aborto (parece-me razoável que exista obviamente uma comparticipação minima da mulher ou do casal para um custo suportado por todos nós). Em campanha eleitoral o PS, que tanto tem falado (e muito bem) na importância da ciência, já veio dizer que irá revogar esta alteração à lei, mesmo sabendo, com a ajuda dessa mesma ciência, que no corpo da mulher grávida há um ser humano, como por exemplo a Joana Amaral Dias sabe hoje tão bem.
Que no dia 4 de Outubro e todos os dias nos lembremos e façamos alguma coisa por estes “refugiados portugueses”.
Pedro Madeira Rodrigues
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