O poder e a humildade
PAULO BALDAIA
DN 20150913
Não há treino que mude a natureza das pessoas. Nesta semana voltou a ficar evidente que o ego dos políticos funciona como funciona o ego de outro cidadão qualquer. Inchando, com excesso de autoconfiança, qualquer um dá um trambolhão pensando estar a dar um passo seguro. Não sei se o problema é dos marqueeteiros políticos se é dos próprios candidatos, mas alguém tem de lhes dizer que, na conquista do poder, o que gera mais confiança é a humildade, não é a soberba. A ideia de que só é humilde quem pode foi, aliás, muito bem expressa por Vergílio Ferreira para quem "não será difícil ser humilde quando se é grande. Difícil é ser humilde quando se é medíocre. Como é fácil ser generoso quando se é rico e não quando se tem pouco". Não estou com isto a querer arrasar os políticos, estou a humanizá-los, a lembrar que eles são como nós.
Terá sido, aliás, essa soberba que fez Pedro Passos Coelho perder o debate com António Costa. O primeiro-ministro, tendo conseguido terminar a legislatura, convenceu-se de que podia ser eleito para um segundo mandato, como normalmente são reeleitos os presidentes da República. Sem dizer nada e passeando o seu estatuto, fosse pelo país fosse pelos debates. A estratégia estava a correr tão bem que, algo inimaginável há um ano ou dois, a coligação aparecia empatada nas sondagens com o PS e a crescer. A soberba foi de tal forma que, contra os gráficos e toda a restante papelada de Costa, Passos levou para o debate folhas em branco e uma caneta. Estava convencido de que era impossível perder o debate. Tropeçou na própria vaidade.
O défice de humildade é, aliás, muito comum na luta política e gera frequentemente uma bipolaridade colectiva nos partidos. Tanto se esforçam por não cometer erros, que eles acontecem mais rapidamente quando as coisas estão a correr bem. Passar da depressão para a euforia e vice-versa é coisa que acontece de um dia para o outro. É também isto que explica que António Costa e os seus colaboradores mais próximos tenham festejado no fim do debate, quase como se tivessem acabado de ver as primeiras projecções a dar-lhes a vitória no dia 4 de Outubro. Mas o pior dessa soberba aconteceu no dia seguinte, quando o líder do PS se sentiu no direito de insultar o jornalista que o entrevistava na RTP. Os jornalistas não estão isentos de críticas e somos também muitas vezes vítimas do nosso próprio ego. Diz-se, aliás, que a melhor maneira de enriquecer é comprar um jornalista pelo que ele vale e vendê-lo pelo que ele diz que vale. A verdade é que quando Costa chamou porta-voz de Passos Coelho a Vítor Gonçalves não fez uma crítica, insultou um jornalista com provas dadas de inteligência e isenção. Tropeçou na própria altivez.
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