Radio killed the video star

ALBERTO GONÇALVES | DN 2015.09.18

Para mim, o "debate decisivo" foi o debate "em diferido". Marcar compromissos para as dez da manhã desrespeita quem é trabalhador liberal ou não vive na Lapónia. Por isso fintei a ordem natural das coisas e comecei, lá para o meio-dia, por espreitar as "reacções". Quase toda a gente decretava a vitória de Pedro Passos Coelho, o que já era um indício. Mas os comentadores da SIC Notícias falavam em "equilíbrio", o que confirmava a derrota de António Costa. Só então cumpri as regras e, sem imagem, ouvi a coisa.
Há 55 anos que se sabe: nos debates políticos televisivos ganha a "impressão"; nos radiofónicos ganham os argumentos ou, no caso do Dr. Costa, perde a falta deles. Na semana passada, favorecido pela estética da leviandade e pela inépcia de "moderadores" empenhados em fuzilar a sombra de uma ideia, o Dr. Costa saiu com a ilusão da vitória. Ontem, o meio utilizado e a inclusão de jornalistas de facto deixaram o homem despido - de forma apenas um pouco mais metafórica do que certa candidata de extrema-esquerda.
É verdade que o Dr. Costa agita em toda a parte uma pastinha com, repitam em coro, "compromissos escritos" e "contas feitas". Infelizmente, a pastinha não lhe vale de muito na hora de justificar o injustificável. Num debate a sério, aqueles lirismos mal amanhados ficam pendurados no vazio. E depois cedem com estrondo ao peso de uma tarefa impossível, a de explicar porque é que o partido que arruinou o país é a melhor alternativa aos partidos que, com sacrifícios e asneiras, nos livraram provisoriamente da ruína.
E, se a mensagem é incurável, o mensageiro não ajuda. O Dr. Costa, embora com progressos, exprime-se com dificuldade, enriquece o léxico (o que é uma "rúbrica"? E "competividade"?), engole sílabas ("para" é sempre "pa") e nunca larga a irritação "ideológica" que lhe limita o discernimento - ou lhe decide o pensamento, para os cínicos.
Quanto ao Dr. Passos, que também estava por ali, soou honesto e diplomático, firme e exaustivo, liberal e socialista. Desmontou as "teses" do oponente com cansativo detalhe, praticou um português burocrático e competente por comparação e tem óptima voz. Não tem uma visão clara do futuro. O Dr. Costa, coberto de passado, tem inúmeras alucinações. Em Outubro, veremos a que distância da realidade os portugueses preferem estar.

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