ENTRE AS MÃOS DA VIDA

Facebook 4 de julho de 2015 José Luís Nunes Martins 

A tragédia chega quase sempre sem aviso. Nos primeiros momentos, parece que se trata do fim não só do nosso mundo como do mundo inteiro – como se a nossa desgraça fosse um sinal de que tudo está prestes a perder o sentido. Nessas alturas, face a face com a adversidade, sentimos que só pode andar feliz quem ignora o que lhe vai suceder em breve. 
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Segue-se a sensação de injustiça profunda. Só a mim me acontecem desgraças atrás de desgraças, intervaladas por períodos de pausa apenas para que as quedas me doam ainda mais…
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Algum tempo depois, uma serenidade mais consciente e sensata revela-nos que há mais gente como nós, a sofrer como nós, alguns... bem pior.
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Não somos os primeiros a quem as noites chegam a meio de um dia calmo. Nem os últimos a quem tudo parece sem sentido até que na escuridão se faz luz e, por breves momentos, tudo o que estava oculto se descobre... e, afinal, há sentido.
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O mais terrível das tragédias é que ninguém tem culpa. Não há culpa, não há desculpa.
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Também assim é nos melhores momentos. Quase sempre chegam sem grandes avisos e parece que tudo o que havia no mundo de cinzento ganhou cor. Desejamos e sentimos que mesmo os que estão mal em breve ficarão bem.
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Mas a verdade é outra: a nossa existência é um caminho contínuo. Com altos e baixos, mas que, em momento algum, deixa de progredir. O tempo nunca se detém. Conforme nos vamos afastando, melhor compreendemos que os altos e baixos não são outra coisa senão partes do nosso caminho. Ao longe, a vida é mais evidente: as alegrias e as tristezas são meras ilusões de superfície. A realidade é que nos deslocamos a uma velocidade constante, não para cima e para baixo, mas para diante. Rumo ao mistério do que não tem fim.
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A minha vida não é um conjunto de sonhos e pesadelos, antes um caminho simples, que passa por montes e vales, mas que é maior do que eles. Algo tão pessoal quanto definitivo.
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Esta nossa vida é excelente. Não pelos momentos que nos enchem de alegria, nem pelos sofrimentos que temos de suportar... antes pela longa jornada entre os absolutos mistérios do nascimento e da morte.
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A verdade é a vida, a vida é o meu caminho, e é por este caminho que se encontrará toda a verdade.
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Vista lá de longe, a nossa existência é magnífica. Como uma estrela cuja luz palpita, vivendo e morrendo a cada instante. Numa luta onde só a vida pode ganhar. Porque a morte é nada… e o nada nada pode.
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Serei sempre mais do que a minha alegria.
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Serei sempre maior do que a minha desgraça.


Ilustração de Carlos Ribeiro

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