Se os homens fossem para viver sem mulheres….
Há uma frase pedante usada nos clubes de debate que é estritamente verdadeira para a emoção masculina; chamam-lhe “falar para a pergunta”. As mulheres falam umas para as outras; os homens falam para o sujeito de que estão a falar. Muito homem honesto já se sentou num círculo dos seus cinco melhores amigos debaixo dos céus e esqueceu-se de quem estava na sala enquanto explicava um qualquer sistema. Isto não é apenas peculiar do homem intelectual: todos os homens são teóricos, quer estejam a falar de Deus ou de golfe. Os homens são todos impessoais; isto é o mesmo que dizer, republicanos. Ninguém se lembra depois de uma conversa realmente boa quem é que disse as coisas certas e inteligentes. Qualquer homem fala para uma multidão visionária; uma nuvem mística, aquilo que chamamos, o clube.
É óbvio que esta calma e descuidada qualidade que é essencial à afeição colectiva dos homens, envolve desvantagens e perigos. Conduz à cuspidela; leva ao discurso grosseiro; deve conduzir a essas coisas enquanto for honrada; a camaradagem tem que ser, em certo grau, feia. No momento em que a beleza é mencionada na amizade masculina, as narinas imobilizam-se com o cheiro de coisas abomináveis. A amizade deve ser fisicamente suja se quer ser moralmente limpa. Deve andar em mangas de camisa. O caos dos hábitos que geralmente acompanha os homens quando deixados inteiramente a si próprios só tem uma cura honrosa; e essa é a estrita disciplina de um mosteiro. Alguém que tenha visto os nossos infelizes jovens idealistas dos apartamentos do East End, gastando os seus colarinhos nas lavagens e vivendo de conservas de peixe, compreenderá inteiramente porque foi decidido pela sabedoria de S. Bernardo ou S. Bento, que, se os homens tiverem que viver sem mulheres, não podem viver sem regras. Alguma coisa do mesmo tipo de exactidão artificial, é claro, obtém-se num exército; e um exército também tem que ser de muitos modos, monástico; apenas difere em que tem celibato sem castidade. Mas estas coisas não se aplicam aos homens casados. Estes têm um limite suficiente à sua anarquia instintiva no selvagem senso comum do outro sexo. Existe apenas um muito tímido tipo de homem que não tem medo das mulheres.
G.K. Chesterton: "What's Wrong with the World," Pt. II, Ch. II.— Wisdom and the Weather.
Comentários