Sonhos de quem lê

José Luís Nunes Martins, ionline 2013-08-03

Ler pressupõe silêncio, recato, isolamento e reflexão...  hoje, os meios audiovisuais exigem toda a atenção dos nossos sentidos e, quais cataratas de imagens e sons, não deixam tempo nem espaço para o pensar.
O pensamento, dizem-nos, é tanto melhor quanto mais abreviado, condensado e resumido. Mas quem vive sem produzir os seus próprios significados e valores, vive às escuras, porque não lhe é dado ver e orientar-se pelas estrelas que existem no fundo de si mesmo.
A ansiedade nasce e alimenta-se de quem, sem ter a coragem de pensar por si próprio, abraça medos que interessam a outros... faz-se escravo quem se demite de pensar; quem se entrega a temores; quem permite que outros lhe conduzam os passos.
A vida profunda é sentir refletido. Os livros, cujo motor é a alma de quem os lê, respeitam a especificidade de cada leitor. A distância aos factos promove uma maior compreensão. Não são histórias de outros, mas a nossa, ali.
Uma vida vale mais que qualquer livro. Um beijo verdadeiro vale mais que mil romances. Mas, só a um espírito educado e ágil é possível sentir a vida em toda a sua profundidade.
Os caminhos de quem escreve não são os de quem lê. As vidas são sempre diferentes, assemelhando-se nas bases, nas profundidades do ser... um bom livro é uma crónica dessas fossas abissais... passando a quem o lê pistas essenciais à descoberta das paisagens remotas que são comuns a todos os homens.
Ler é uma porta para nós mesmos, um desafio ao pensar, porque os autores criam sempre com os sonhos de quem lê.

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