Sacrifiquem-se os alunos em nome da luta

Alexandre Homem Cristo
I-online 2013-06-10

Já não é uma luta pelos professores. É um acto político de oposição ao governo, liderado por quem não esconde o seu objectivo: "derrubar o governo"
Os sindicatos de professores não cederam e, portanto, não chegaram a um entendimento com o Ministério da Educação sobre as 40 horas de trabalho semanal (queriam manter as 35 horas) ou sobre a mobilidade especial (queriam ficar isentos). Surpreendente? De forma alguma.
1. A ausência de um entendimento não surpreende quando apenas uma das partes o procura. Sabendo o que estava em causa, que é a salvaguarda dos interesses dos alunos, o Ministério da Educação fez várias cedências e deu inúmeras garantias. Publicou o despacho para a preparação do ano lectivo, anulando os rumores de que aumentaria a carga horária da componente lectiva dos professores. Atribuiu créditos de componente lectiva a actividades de apoio aos alunos. E propôs o adiamento da mobilidade especial para 2015, depois de ter reafirmado o seu compromisso para que não houvesse professores com horário zero no próximo ano lectivo. Tudo isto para prevenir os efeitos da mobilidade especial. Do outro lado da mesa, que cedências fizeram os sindicatos? Que se saiba, nenhuma.
2. Esta posição irredutível dos sindicatos também não é surpreendente. Em primeiro, pela forma como todo o processo foi conduzido. É sabido que as greves foram marcadas antes de se iniciarem as negociações com o Ministério da Educação, o que só por si diz muito sobre os seus objectivos. Da mesma forma que é sabido que houve organizações sindicais que, desde o início de Abril, fizeram de tudo para que houvesse greve aos exames, tornando claro que este boicote foi atempadamente planeado. Em segundo, pelas próprias reivindicações dos sindicatos. Perante uma reforma que tem como alvo toda a administração pública (40 horas semanais e mobilidade especial), os professores exigiram o impossível: ser a excepção e ficar à margem. E quem exige o impossível nunca se contenta com menos.
3. O que surpreende, apesar de tudo, é o descaramento com que estes sindicatos rejeitam a responsabilidade pelo prejuízo que causarão aos alunos e às famílias. Com o mesmo irrealismo das suas reivindicações, afirmam que as suas mãos estão limpas e que os efeitos da greve estão sob a exclusiva responsabilidade do ministério - bastaria, por exemplo, mudar o dia do exame de português (17 Junho). Acontece que nem isso é exequível sem prejudicar o calendário do próximo ano lectivo (acesso ao ensino superior), nem os mesmos sindicatos o permitiriam, uma vez que agendaram novas greves para os restantes dias de exame nacional nessa semana. Não, as suas mãos não estão limpas.
4. De resto, este prolongamento dos dias de greve, decidido após o fracasso das negociações com o ministério, é a demonstração clara de que o objectivo de alguns sindicatos já ultrapassou largamente o âmbito da educação. Com as negociações terminadas, e não havendo ganhos negociais possíveis, o fim deste novo prolongamento das greves é exclusivamente destrutivo: infligir o maior dano possível e instituir o caos no funcionamento do sistema educativo. Deixou de ser uma luta pelos professores. É, agora, um acto político de oposição ao governo, liderado por quem não esconde o seu (verdadeiro) objectivo: "derrubar o governo".
Ninguém contesta que a luta política seja legítima e as greves sejam legais. Mas sacrificar deliberadamente os alunos em nome dessa luta, sendo legal, está longe de ser legítimo. E fazê-lo sob o manto da defesa da escola pública, negando a responsabilidade pelas consequências das greves, é um ultraje perante o qual não se pode ficar indiferente.

Comentários

Joaquim Ferreira disse…
Este homem é investigador?
Creio que é um mercenário pró-governo. E digo porquê...
A reforma que o governo quer impor é fruto da incoimpetência governativa. Não
era uma inevitabiolidade. Todos sabemos onde foi esbanjado o dinheiro de todos nós. Cremnos que fala sem saber o que diz…
Sobre os sindicatos refere que "os professores exigiram o impossível: ser a excepção e ficar à margem".
e critica falando do "irrealismo das suas reivindicações".
E que "sindicatos rejeitam a responsabilidade pelo prejuízo que causarão aos alunos e às famílias."
Quem mais do que os professores defende os aluno ? Ninguém: são eles a razão de exitir da classe! É com eles que vivem a sua vida... E se não gostassem do que fazem, seria uma vida perdida! Ou ainda não se deram conta de que só os professores defendem os interesses dos alunos? Igualmente aos médicos. Ou pensa que são os governantes que defendem melhor os interesses dos doente sque os próprios míédicos? Quem probibe gastar mais medicamentos? O Estado ou os médicos? Quem controla tudo?
Ora, um professor trabalha para desenvolver capacidades e proporcionar o acesso ao conhecimento por parte dos seus alunos. Não trabalha para que os alunos se submetam e superem um ou outro exame. É ridículo afirmar este tipo de coisas.
Meu caro… A existência de exames é um imperativo dos governos.
De nada ser usar silogismos falaciosos.
O trabalho dos professores chega ao fim com a avaliação do terceiro trimestre. Ora, os professores não trabalham com o objectivo de levar os alunos a exame. O exame é uma iniciativa do Estado, e como tal da exclusiva responsabilidade dos governos. É uma obrigação imposta pelo governo, desconfiado (vistos os escândalos com as licenciaturas de governantes, eles lá saberão o “porquê” desta exigência…
Quando há greve dos médicos, que dirá este senhor? Ora, todos os dias estão agendadas cirurgias!! Que dirá? Que os médicos que devem fazer greve num dia em que está marcada uma operação?
E, no caso dos médicos, até se poderia compreender… porque, adiando-se uma operação, pode haver “uma vida em risco”. Que risco correm os alunos? De fazer o exame noutro dia? Pois bem… Qual será o problema? Redução dos dias de férias dos alunos? Busque os culpados e aponte-lhes a arma. Os professores são os reféns nesta matéria. Reféns de más políticias dos governos passados e do actual. Duvida?
Carlos Fernandes disse…
Qual o prejuízo que os professores fazem aos alunos e às suas famílias? Já tinham as férias marcadas e tem de ir mais tarde!
O grande prejuízo dado a praticamente todos os portugueses e por via desta afirmação também aos alunos e professores, justifica qualquer tipo de acção da sua parte. Pena que em Portugal sistematicamente a pressão dos media e dos governantes tenha tido um efeito desmobilizador das lutas de varias classes profissionais. Este governo atacou os alunos reduzindo os apoios, o número de horas por disciplina, aumentando os alunos por turma,e promovendo a insegurança nos professores. Isso é que foram acções que prejudicam os alunos e as suas famílias.
Eu que até nem sou professor nem de esquerda, facilmente entendo as suas razões. O governo tem sempre mentido aos portugueses, desde a campanha eleitoral e vai continuar a fazê-lo, por isso não acredito nas suas cedências.
Em frente! Haja alguém com coragem e que faça alguma coisa.

Carlos Fernandes
Vasco Gama disse…
Não é bem assim. O despacho de lançamento do ano letivo retirou a compensação horária pela direção de turmas pelo que na prática aumenta o número de turmas que cada professor dá. Não foi negociado, nem sequer foi enviado às escolas, apareceu vindo do nada, na internet. Tem algumas novidades, como as escolas que têm resultados acima da média nos exames nacionais têm direito a mais horas para trabalho suplementar com os alunos. Parece correto, parece justo? O Ministério chamou sindicatos, conselho de escolas, etc, para negociar? Não. Falou pela televisão... Mesmo depois de o Sr Presidente da República apelar ao diálogo...

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