Mário e o lobo

João Miguel Tavares Público, 18/06/2013

Mário Nogueira foi eleito líder da Fenprof em Abril de 2007. Em Setembro de 2007, a propósito do concurso de colocação de professores, declarou: "Este é o maior ou um dos maiores despedimentos colectivos que teve lugar neste país." Em 2008, a propósito da avaliação dos professores: "Se o Ministério da Educação quiser guerra, vai ter guerra." Em 2009, sobre o Estatuto da Carreira Docente: "Visa transformar os professores em operadores acríticos de verdadeiras linhas de montagem em que estão a ser transformadas as escolas portuguesas." Em 2010, acerca dos novos agrupamentos de escolas: "São um absurdo e a negação completa do que é o trabalho pedagógico numa sala." Em 2011, a propósito do Orçamento do Estado: "Um verdadeiro roubo, quase um assalto à mão armada." Em 2012, acerca do ministro da Educação: "Está a apostar na ignorância, está a apostar na segregação, está a apostar na destruição deste país." Em 2013, sobre a mobilidade especial: "Eu acho que este é um governo fascista."
Assim de repente, estou capaz de adivinhar o que ele dirá em 2014 sobre qualquer ideia que venha dos lados da 5 de Outubro. Aposto o meu ordenado em como vai ser má, péssima, horrível, um atentado, uma vergonha, uma calamidade, uma tragédia, um assalto, um roubo. Claro que Mário Nogueira está a cumprir o seu papel e a empenhar-se naquilo para que foi escolhido: proteger os interesses da classe dos professores a todo o custo - chamando-lhe "defesa da escola pública" para parecer bem -, independentemente do estado em que o país se encontre. Se Mário Nogueira fosse delegado sindical no Jardim do Éden quando Eva entregou a maçã a Adão, ele estaria certamente ao lado de quem, com tanta competência, astúcia e empenho, ministrou a disciplina de Pecado Original. Não é, pois, de espantar que Adão e Eva tenham sido colocados em mobilidade especial, enquanto a serpente permaneceu nos quadros do Paraíso: os alunos sempre tiveram mais azar do que os professores.
E no entanto, os professores parecem apreciar esta atitude, continuando a achar que o estilo e a ideologia PCP da Fenprof, que não convence 10% dos portugueses quando se trata de governar o país, é perfeita para governar os interesses de 50% dos professores. Sem dúvida que o pandemónio nos exames de ontem mostrou o músculo do sindicato e a perenidade de Mário Nogueira. Um dia destes, também Nuno Crato seguirá os passos de Maria de Lurdes Rodrigues, e outro ministro da Educação terá o privilégio de estar face a face com o seu incrível bigode. Só que, infelizmente para os professores, tanta verve sindical também tem um preço - e o resultado de ter um sindicato que todos os anos, mal lhe cheira a qualquer tentativa de reforma, desata aos gritos pelas ruas como se as pragas do Egipto tivessem caído sobre nós, é dar cabo da imagem dos professores junto de uma faixa muito significativa da população.
Mário Nogueira é um homem empenhado, combativo e que leva a peito a sua missão, mas o seu radicalismo, apoiado por dezenas de milhares de professores, transforma toda a classe numa versão sindicalizada de Pedro e o Lobo. Anunciar o apocalipse a cada 15 dias nunca dá bons resultados, porque as reivindicações justas e injustas se misturam numa mixórdia indistinta de protestos. E assim, aos poucos, Mário Nogueira e os professores vão perdendo toda a credibilidade. De vitória em vitória - até à derrota final.

Comentários

Anónimo disse…
Caro João M Tavares, o seu artigo parte de um pressuposto base que, sendo simpático, penso estar fundamentalmente errado. Presumir que o interesse de um dirigente sindical é defender os trabalhadores é cândido, mas em geral errado. O interesse imediato de um dirigente sindical é justificar perante os trabalhadores a sua função. Essa justificação é suportada por indicadores de "luta" contra os patrões e não por indicadores reais de melhoria de condições, salariais de emprego ou outras, numa perspectiva de longo prazo.

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