O estado da nação

Público 21/06/2013
Vasco Pulido Valente

Só um comentador, Pedro Braz Teixeira (que já se demitiu do Gabinete de Estudos do PSD e do próprio PSD), deu pela extraordinária intervenção que o preclaro António José Seguro resolveu fazer em Paris a um suposto "Fórum dos Progressistas". Seguro não esteve com meias medidas. "Proponho", disse ele, "que a UE estabeleça como seu objectivo para o ano de 2020 que nenhum país possa ter uma taxa de desemprego superior à média europeia".
Evidentemente, a única maneira de isto suceder seria que a taxa de desemprego fosse sempre a mesma em toda a parte, o que é compreensível para uma criança do "básico"; ou, na falta deste milagre, medidas de uma inconcebível brutalidade e loucura. Mas consta que o sr. Seguro, com esta cabeça, nos pretende reger.
Por outro lado, o nosso querido Presidente, que persiste no seu admirável processo contra Sousa Tavares, usou em público duas novas palavras: "cidadões" e "fazerei". Atrevimentos que sem dúvida deixaram estupefactos alguns dos mais fanáticos defensores do "acordo ortográfico luso-brasileiro". Verdade que a nunca assaz louvada Constituição em vigor não obriga o Presidente a saber gramática, mas talvez não prejudicasse o português comum que o dr. Cavaco Silva falasse com uma certa correcção. Infelizmente, também neste caso, um único comentador das dezenas que se ocupam por aí a vociferar, Alberto Gonçalves, se dignou a corrigir tão alta personagem com observações de lesa-majestade. Nem nos jornais, nem na rádio, nem nas televisões se ouviu a menor observação a este estranhíssimo episódio.
Isto que, aparentemente não passa de um típico sinal da nossa brandura, para alguns cépticos revela um desprezo cada vez mais largo e mais profundo que a generalidade da população, que não sofre de uma irremediável iliteracia ou numeracia, adquiriu pela gente que em princípio nos governa. Não há semana em que as vítimas da bancarrota nacional não descubram com espanto e com horror provas frescas do apodrecimento a que chegou o país: ora é a dimensão do verdadeiro custo das PPP, ora o negócio suicida dos swaps, ora guerras financeiras de que se não percebe o teor e o propósito (e que nenhum ministro desce a explicar), ora os deputados da JSD que perguntam ao sr. Crato quanto custam os sindicatos dos professores. O dr. Cavaco não é um palhaço (Deus me livre!), mas tudo indica que o país, coitado, é uma grande palhaçada.

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