AMAR É CRIAR PARA SI MESMO UMA PRISÃO

José Luís Nunes Martins, Facebook, 2015.09.06

Cara amiga,
Ninguém gosta de ver sofrer quem ama. Assim, não é de estranhar que lhe tenham dito que não gostam de a ver dessa forma. Quer estejamos alegres ou tristes, somos sempre uma e a mesma pessoa, apenas em momentos diferentes da vida. O amor consiste em querer o bem de quem se ama, pelo que ser capaz de admirar o seu contentamento é já algo muito bom por si mesmo. Pelo contrário, se amamos alguém que está triste, então sentimos o dever de fazer algo em relação a isso... Ora, é nesse exato ponto que se distinguem as verdades das aparências. Quando se trata de passar às obras, muitos amores aparentes esfumam-se...
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Ao contrário do que muitos pensam, uma pessoa triste não é uma pessoa horrível. A tristeza faz parte da vida, de todas as vidas, talvez mais ainda daquelas que por todos os meios a tentam esconder. É um erro grave pensar que devemos, quando estamos mal, aparentar estar bem para não sobrecarregar quem gosta de nós. O amor é um compromisso com a verdadeira felicidade do outro. Alguém que ama só pode estar contente se aqueles a quem ama também o estiverem. Falsas aparências são, ainda que com a melhor das intenções, golpes fundos, fortes e feios em qualquer relação humana.
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Cara amiga, aquela pessoa que não gosta de si quando está triste, será que gosta mesmo de si? Ou será que gostará apenas de si mesma? Lamento, mas em qualquer dos casos, não há amor. Importa ter cuidado com as palavras e os gestos. Uma coisa é eu dizer que não gosto de ver alguém triste; outra, bem diferente, é que eu não ame essa pessoa – e dela queira cuidar – quando mais ela precisa de alguém. Não confie nas palavras. Concentre-se nos gestos. O amor faz-se de obras, não de promessas, por mais belas e poéticas que sejam. Um doente nunca procura um médico que fale muito e bem… mas alguém que o cure.
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Sempre houve quem dissesse que só há amor enquanto for bom para os dois. Nada mais errado! O amor verdadeiro será quase o oposto disso. Amar é criar para si mesmo uma obrigação de cuidar do outro, mais ainda quando ele estiver mal. Ao limite, só se pode amar de forma profunda quem precisa e aceita o nosso amor. Pois só nesse caso ele se cumpre de forma plena. Antes disso, será um compromisso de honra para assumir esse papel em caso de necessidade.
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Nem sempre, quem está triste quer partilhar a sua dor. Por vezes, não se quer falar com ninguém sobre o assunto. Afinal, a pessoa assume que a tristeza é sua e de mais ninguém. Nesses casos, importa ficar por perto apenas, respeitando a pessoa, mostrando-lhe que estamos ali. Que queremos estar ali com ela. Que a sua tristeza não nos desilude. Que ela é a mesma pessoa. A que amamos. Quer queira partilhar a sua tristeza connosco, quer prefira o silêncio e alguma distância.
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Todas as pessoas sofrem. É impossível amar alguém que não sofre. Não há amor sem sofrimento. Os seres que apenas querem do outro o que ele tem de mais agradável são parasitas... e, a infeliz verdade é que também há muitas espécies de parasitas humanos.
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Não julgue que o seu amor, ainda que autêntico e profundo, evita o sofrimento às pessoas que ama. O amor serve para cuidar, não para evitar o inevitável. As pessoas que amamos choram, sofrem e morrem como todas as outras. A diferença é que não o fazem sozinhas.
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Assim, também não julgue que o amor de quem a ama a pode livrar dos sofrimentos e amarguras desta vida. As pessoas que a amam ficarão perto, mas precisarão sempre que as ensine a amarem-na. Que as ajude... a ajudarem-na.
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O amor faz milagres, sim. Mas nunca faz os milagres que as pessoas conseguem fazer sozinhas.
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Conte comigo.
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Peço-lhe que não deixe que a sua fé no amor seja perturbada.
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Confio em si e tenho-a presente nos meus silêncios.
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muito Obrigado,

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