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A mostrar mensagens de setembro, 2015

Precisa-se: Explicador de democracia para o PS

Maria João Marques Observador 30/9/2015 Que o PS se prepara para truques palacianos de assalto ao poder, mesmo sem qualquer legitimidade democrática, é um dado adquirido. Tal como a claríssima veia antidemocrática de muita gente do PS. Quando era criança, nos tempos antes da queda do Muro de Berlim, uma das minhas perplexidades de infância era o facto, relatado por pai e irmãos, de a Alemanha que se chamava República Democrática Alemã ser, afinal, não democrática. E de a Alemanha democrática não ter nada de democrático no nome. Anos mais tarde convenci-me que este paradoxo toponomástico se devia ao cinismo comum dos regimes comunistas de colocar no nome o contrário da realidade nomeada. Mais ou menos como Sir Humphrey Appleby, da série Sim, Senhor Ministro aconselhava ao ministro Jim Hacker: quando nos queremos livrar de alguma política bem-sonante mas que desagrade aos desígnios do político, é colocá-la no título do documento que a institui e gastar o resto das linhas e pág

Do Evangelho de hoje

«Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus» Lc 9, 62

Quando volta a troika?

JOÃO CÉSAR DAS NEVES DN20150930 Uma questão central das eleições é: quando voltaremos a ter um programa de ajustamento? A história não tem de se repetir, mas a primeira vez que o FMI cá veio, em Maio de 1978, foi obrigado a regressar cinco anos depois, em Outubro de 1983. Com o último programa assinado em Maio de 2011, falta um ano para se repetir a recaída. As razões de um regresso da troika vêm da situação económico-financeira. A dimensão das dívidas, pública e privada, a fragilidade bancária e o fraco crescimento impedem de descartar o agoiro. Portugal, apesar das indiscutíveis melhorias dos últimos anos, está muito longe de estar curado da doença. Em Maio de 2014, com o fim do programa, saiu dos cuidados intensivos, sem pedir nova ajuda externa. Confundir isso com alta hospitalar é um erro crasso. Estamos, e continuaremos alguns anos, em situação muito precária, não apenas orçamental mas privada. As empresas, regressadas ao crescimento em inícios de 2013, não registam um

Os temas fracturantes e o PS (2)

Corta-fitas ,  Vasco Mina, em 27.09.15 Os temas fracturantes são exatamente o que querem significar: questões que dividem as opiniões, fraturando a sociedade em duas ou mais partes. Muitas vezes (para não dizer sempre) são acompanhados de abordagens ideológicas da sociedade o que os torna ainda mais fracturantes e com uma elevada carga emocional. Deveriam ser amplamente debatidos e, para alguns deles, colocar à decisão dos portugueses, ou seja, recorrendo ao referendo. Não é esta a opção do PS pois no seu programa eleitoral toma ( e destaco a frontalidade) a opção da defesa de soluções sem qualquer debate prévio. Ou seja, o PS assume o compromisso de: 1)  Eliminar a discriminação no acesso à adoção e no apadrinhamento civil por casais do mesmo sexo .  Ou seja, o pleno acesso ao regime de adoção por parte de casais homossexuais.  Retomando a argumentação do recente debate em torno de legislação apresentada na AR sobre a co-adoção, sou dos que defende o direito da criança (que de

Escolher

Maria João Avillez Observador, 2015.09.29 Fui-me espantando de vez para vez, não era este político que tinha na cabeça quando tudo isto começou, em Maio de 2015, no jardim da Ribeira das Naus. Que esquisito. Tanto nevoeiro que entrou. “Está a entrar o nevoeiro” dizia alguém há dias, sentado na esplanada duma praia do norte, com a mesma certeza com que diria ao amigo, “olha, vem ali o Manel”. Sabia que o dia se estragara de vez. O nevoeiro no PS também entrou de vez, dando-lhes cabo dos dias. Os socialistas, coisa extraordinária, sempre acharam que tudo lhes seria fácil, era deixar passar o tempo e cortariam a meta em primeiro lugar. E não era até tão “barato”? Bastar-lhes-ia dizer mal de tudo, do governo, da governação, das medidas, da “direita”, da troika, e claro, de Passos Coelho, o bombo da festa sem direito a uma só folga (de bombo); tão entretidos andavam neste “malhar em tudo” que também malharam no país, sem reparar que há portugueses que estranham ou se envergonham

A esquerda odeia mesmo a democracia

António Ribeiro Ferreira, ionline, 2015.09.29 O verniz de socialistas, comunistas, bloquistas e afins desesperados está a estalar. O povo, afinal, não passa de um verbo de encher para esta gentinha bem pensante e caviar. Verdade é como o azeite num copo de água e vem sempre ao de cima. O ditado é velho, a frase foi dita há dias por António Costa, secretário-geral socialista e candidato a primeiro-ministro. Por uma vez tem toda a razão. Quando o seu camarada Correia de Campos, ex-ministro da Saúde de Sócrates, afirmou que o povo era estúpido se desse a vitória à coligação do PSD e CDS estava mesmo a falar verdade. Não é uma metáfora, como a morte aos traidores do MRPP, é mesmo o que pensam os camaradas socialistas. O povo, reformados, trabalhadores, rurais, desempregados, comerciantes, pequenos e médios empresários, é estúpido se não vota nas mentes brilhantes de esquerda, que ontem como hoje se imaginam a vanguarda bem pensante, a elite que conduz à felicidade suprema um

Campanhas negras

Blasfémias , 29 SETEMBRO, 2015 by   rui a. A campanha do PS submergiu, de há duas semanas, numa campanha negra de casos e casinhos contra o governo. É um erro grave, que em boa parte explica o fracasso deste partido nas sondagens. Porque, quem estava decidido a votar nos partidos do governo, não é com estas tretas que mudará de voto: por fidelidade partidária, por acreditar que estes «factos» não passam de campanha, ou as duas coisas juntas, não haverá desvios de voto significativos por causa disto. Em contrapartida, em relação aos indecisos, com quem o PS deveria estar preocupado, também não é por salientar os deméritos alheios que o PS conseguirá evidenciar as suas excelsas qualidades. Os indecisos querem ser convencidos a votar em alguém e não propriamente a não votar em terceiros. Não por acaso, o PS continua a descer nas sondagens, enquanto a Coligação mantém as intenções de voto há semanas. Alguém sensato que lembre aos estrategas do PS os resultados da última campanha

O mistério de António Costa

Rui Ramos Observador 29/9/2015 Para a nossa oligarquia política, a simples possibilidade de uma derrota de António Costa é algo de incompreensível. A "austeridade" afinal não foi má? Terá sido a Grécia? O Sócrates? Não percebem. Porque é que António Costa perdeu as eleições? A resposta, como é óbvio, é que ainda não perdeu. Mas é essa a pergunta que já toda a Lisboa oligárquica faz, muito impressionada pelas sondagens e pelos azares da campanha. A Europa tem-nos dado este ano motivos suficientes para desconfiarmos de primeiras impressões em campanhas eleitorais. Mas para a nossa oligarquia política, a simples possibilidade de uma derrota de Costa já é algo de incompreensível. E isso não apenas à esquerda, como à direita, porque a oligarquia é oligarquia antes de ser de esquerda ou de direita. A primeira razão de perturbação é esta: um governo que corta rendas e muda hábitos tem de perder eleições. Este foi, durante décadas, um dos pilares da sabedoria oligárquica,

Socialismo

Se o governo conseguisse criar empregos e educar crianças, o socialismo teria funcionado George Gilder (1939 - …) Economista americano, fundador do Discovery Institute

Poema eleitoral

José Miguel Pinto dos Santos Observador 28/9/2015, 10:05 Mestre Zhuang ficou famoso pelo seu discurso em que recusou um convite para ser primeiro-ministro, onde comparava ministros a bois de engorda e os corredores do poder a antros de depravação. Zhuangzi (c.369—286 aC) não é uma referência óbvia para as próximas eleições legislativas. Está distante de mais de nós no espaço e no tempo: era chinês e morreu há já muito tempo. Era filósofo, um dos mais importantes da sua geração e da sua escola, e se fosse grego seria categorizado como cínico, uma versão sínica de Diógenes de Sinope (412—323 aC), um campeão em impopularidade. Era de vida austera por convicção política e filosófica, um superlativo de José Mujica, e para mais era também poeta, tendo escrito boa parte da sua crítica ao confucionismo e ao mohísmo em verso. No entanto, Mestre Zhuang não era uma nulidade na arte da política e na gestão das finanças públicas, numa nação onde o engenho no governo, conjuntamente com a

Por que não me vou abster

JOÃO MIGUEL TAVARES Público 29/09/2015 - 05:05 O PS avaliou mal o descontentamento do eleitorado flutuante, moderado e centrista, que é aquele que faz ganhar as eleições. António Costa perdeu a minha abstenção no dia em que disse que não viabilizaria o orçamento do governo no caso de perder as eleições. Se é certo que Costa nunca teria o meu voto, porque o seu PS ainda é em larga medida o PS de José Sócrates, a minha abstenção era muito fácil de obter. Há precisamente um ano, após ele ter vencido as primárias do PS, escrevi: “Com Seguro, eu seria obrigado a votar PSD. Agora, pelo menos, já me posso dar ao supremo luxo de votar em ninguém.” Foi esse supremo luxo que António Costa me roubou – e desconfio que não foi só a mim. Conheço demasiadas pessoas que há seis meses juravam não votar em Passos e que entretanto mudaram de ideias, não porque a economia esteja espectacular ou porque tenham sido recentemente descobertas encantadoras qualidades no cerebelo do primeiro-ministro,

Um guia para os perplexos

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Pedro Magalhães Observador 28/9/2015, 10:56 Como é que a coligação pode ter hipótese de ganhar esta eleição? As sondagens ainda podem mudar? Esta é a história que eu acho que sei contar com alguma segurança. Qual é a vossa? “Como é possível que a coligação governamental possa chegar a estas eleições sem ser castigada eleitoralmente?” A coligação vai ser castigada eleitoralmente. Vamos imaginar que no dia 4 tinha os 38% que o agregador do Popstar lhe dá neste momento. Presumindo que a participação eleitoral não muda muito de 2011 para 2015, isto implicaria que a coligação perderia 700.000 votos, 1 em cada 4 dos votos de 2011. Desde 1974, PSD+CDS só tiveram menos em conjunto nas eleições de 2005. Perdas acima dos 12 pontos percentuais para um governo só tivemos de 1983 para 1985 para os partidos do Bloco Central (mas isso foi no ano do PRD), de 1991 para 1995 para o PSD, e de 2002 para 2005 para a coligação PSD/CDS. Claro que, se tiver algo mais perto dos 41% que

Costa, o “extremismo” dos outros e a sua impossível quadratura do círculo

José Manuel Fernandes | Público, 20150928 Costa repete e repete-se: ou ele ou a "direita radical". Mais o "extremismo ideológico". Estranho: será assim tão "extremista" devolver os cortes em 4 anos (PaF) em vez de 2 (PS)? Ou apenas prudente? Porque tem um PS um discurso tão histriónico, por vezes até radical? Numa campanha disputada taco-a-taco com a coligação, porque se afasta o PS da sua matriz moderada e repete frases feitas que pouco o distinguem, aos olhos do eleitorado, do PCP ou do Bloco? Há uma bengala retórica que me faz especial confusão: a ideia de que tudo o que se passou nos últimos anos não foi senão uma consequência do “radicalismo ideológico” de Passos Coelho, do seu “neoliberalismo sem limites”, ou mesmo do seu “ultra-liberalismo”. Ouvimos repetir esta ideia por todo o lado, e interrogamo-nos: será “radicalismo ideológico” defender a devolução dos corte salariais em quatro anos (como faz a coligação) em vez de dois? Será “ultralib