O supercasamento

José António Saraiva | SOL | 13/08/2015 

Jorge Mendes mostrou a sua importância, pelo nível dos convidados presentes

Jorge Mendes é um empresário de futebol de fama mundial, conhecido como ‘o superagente’. O que faz um empresário de futebol? Basicamente, serve de intermediário em transferências de profissionais da bola. Tem jogadores e treinadores ‘agenciados’, ou seja, que fazem parte da sua carteira de ‘ofertas’, e vai tentando transferi-los para clubes - em princípio - mais poderosos. 
Se Jorge Mendes não esperou pelo casamento religioso para começar a viver com Sandra e ter com ela três filhos, este enlace só valeria a pena se fosse mesmo um acontecimento estrondoso
Mercê dos contactos que conseguiu em todo o mundo, por mérito próprio, Jorge Mendes faz grandes negócios. Cobrando normalmente 10% do valor das transferências, que atingem valores astronómicos, o superagente está super-rico. 
A actividade a que Mendes se dedica não nasceu com o futebol, antes foi crescendo com a globalização e o aumento vertiginoso dos dinheiros envolvidos no chamado desporto-rei. E esse papel de intermediário, apesar de poder parecer parasitário, interessa a todas as partes.
É certo que inflaciona o valor das transferências. Mas os grandes clubes sabem que, contratando um jogador (ou um treinador) a Jorge Mendes, têm boas perspectivas de acertar - pois o empresário escolhe os seus agenciados com critério e tem muito faro para descobrir talentos. Quanto aos jogadores e aos treinadores, é evidente que os empresários lhes interessam, ajudando-os a mudarem-se para clubes maiores. 
Jorge Mendes é hoje um homem poderoso e tem muita gente a trabalhar para ele - na sua empresa Gestifute -, tendo intermediado transferências de grandes estrelas do futebol. Logo à partida, a de Cristiano Ronaldo do Manchester United para o Real Madrid, que custou mais de 90 milhões de euros. 
Ora, foi este homem que no passado domingo se casou na Igreja de S. João Baptista, na Foz do Douro, protagonizando o designado ‘casamento do ano’. Para a festa, escolheu os Jardins de Serralves - que mandou encerrar, pagando uma verba que rondou os 100 mil euros. Uma bagatela. 
Nas imediações do local onde se realizou a cerimónia houve vigilância policial acrescida e ruas fechadas. Os convidados, em número de quatro centenas, foram proibidos de tirar fotografias - pois Mendes vendeu obviamente o exclusivo das imagens, ou não fosse ele um homem de negócios. 
Câmaras de televisão colocadas no exterior da igreja transmitiam, em directo, imagens da entrada dos convidados. Um deles era inevitavelmente Ronaldo, que Jorge Mendes convidou para padrinho - garantindo desde logo à cerimónia dimensão planetária. Mostrando a sua generosidade, Ronaldo ofereceu de presente aos noivos uma ilha grega, embora se calcule que, com os recentes episódios, o produto deva estar em saldo.
A noiva chegou num Mercedes preto topo de gama, como se esperava, mas as damas de honor chegaram numa carrinha prateada que parecia um carro funerário. A empresa organizadora do evento tem de cuidar melhor, no futuro, destes pormenores.
O noivo já era casado com a noiva há dez anos, tendo três filhos em comum: duas filhas e um filho, de nome Jorge, conhecido por Jorginho. Este facto deixou-me intranquilo. É que conheço várias pessoas que se casaram ao fim de anos a viver juntas - e se separaram pouco depois. É estranho mas é verdade. Carlos Cruz foi um desses casos. Viveu longo tempo com Marluce, deu o nó, e ao fim de pouco tempo separou-se. E não foi caso único. Recordo, ainda, que Pinto da Costa se casou duas vezes com Filomena Morais, numa cerimónia em que Ramalho Eanes foi o padrinho. Pois bem: esse casamento também pouco durou. Espero sinceramente que este enlace tenha outro destino, mais feliz.
A noiva, apesar de já não ser imaculada, apareceu vestida de branco - num vestido desenhado por si, que desiludiu a crítica especializada. E já não sendo uma jovenzinha, mostrou apreciáveis atributos físicos, o que não espanta: tudo naquele casamento tinha de ser ‘em grande’. 
O superagente não se poupou a despesas para criar um importante evento mediático. Fala-se em meio milhão de euros. Sendo um homem do espectáculo, e sendo o futebol o maior de todos os espectáculos, não poderia ser de outra maneira. 
Aliás, se Jorge Mendes não esperou pelo casamento religioso para começar a viver com Sandra e ter com ela três filhos, este enlace só valeria a pena se fosse mesmo um acontecimento estrondoso, falado em toda a parte. 
À volta do futebol giram milhões, muitos milhões, mas não só: giram interesses, influências, poderes, paixões. O futebol é a religião dos tempos modernos. E Jorge Mendes é um dos bispos ou cardeais dessa nova igreja, onde os prelados podem casar - aproveitando este tipo de cerimónias para mostrarem a sua importância, a sua influência e as suas amizades. Que, neste caso, iam de Alex Ferguson a Florentino Pérez, de Luís Filipe Vieira a Pinto da Costa, de Jorge Jesus a Roman Abramovich, passando por Miguel Relvas e pelo já referido Ronaldo, com o pequeno Ronaldinho. Só faltou mesmo Mourinho.
E que remédio tinham os media senão entrar no jogo? O povo adora estas coisas! Recordem-se As Cenas de um Casamento, que punham milhões de telespectadores a ver a SIC. E as revistas também precisam destes números. E até os jornais de referência. Eu que o diga, que negociei com Manuel Maria Carrilho as fotos do seu casamento com Bárbara Guimarães para a revista do Expresso. É certo que não me pediu dinheiro por isso, mas houve condições a respeitar na publicação das fotos.
Jorge Mendes lá casou. E, como na sua actividade de empresário, terá deixado toda a gente satisfeita.
A noiva e respectiva família ficaram com certeza satisfeitas, pois muitas mulheres ambicionam casar pela igreja e as famílias ficam mais tranquilas quando isso sucede. O noivo ficou satisfeito, pois além de oficializar a relação mostrou o seu poder ao fechar Serralves e ter uma boda de estadão. A Igreja ficou satisfeita, pois cobrou pela cerimónia. A empresa que organizou o evento e a que forneceu o copo de água também ficaram satisfeitas, pois precisam de facturar e este tipo de clientes não olha a despesas. Os media ficaram satisfeitos, porque tiveram matéria para encher páginas ou horas de emissão.
Que dizer, portanto? Abençoados os homens como Jorge Mendes, que põem as coisas a andar! E abençoado povo português, que olha embevecido para estes eventos, admirando esse mundo de fantasia, batendo palmas aos noivos e desejando-lhes felicidades! 

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