Holocausto inútil
Jaime Nogueira Pinto | Sol | 11/08/2015
Há 70 anos, em Agosto de 1945, a guerra continuava no Pacífico. Acabara na Europa no dia 8 de Maio e tinham já desaparecido três dos seus grandes protagonistas: F. D. Roosevelt morrera a 12 Abril sem que chegasse a ver a vitória aliada; Mussolini fora fuzilado no dia 28 de Abril por um grupo de partigiani, não se sabe ao certo às ordens de quem; e Adolfo Hitler, o discípulo de Wagner que fizera da Europa e do Mundo o cenário do seu Götterdamerung, suicidara-se a 30 no bunker da Chancelaria.
Mas ficara o Império do Japão, que os Estados Unidos tinham praticamente obrigado a ir para a guerra quando lhe cortaram o abastecimento energético em 1941. O Japão, depois de Pearl Harbour, lançara-se na guerra relâmpago, conquistando e dominando grandes extensões do Pacífico, da Indochina e da Insulíndia, até aí domínios coloniais franceses e britânicos.
Parados em Midway pelos porta-aviões americanos, os guerreiros do Sol Nascente vão conhecer depois a retirada e a derrota. A guerra aérea com bombas incendiárias contra as suas cidades e a guerra submarina que lhes vai afundando os navios, os petroleiros e os transportes, vai ter um efeito devastador no sistema militar e logístico imperial.
No dia seguinte à vitória na Europa, os americanos concentraram-se na frente do Pacífico. Considerando o modo renhido e fanático da resistência japonesa, desde os aviadores kamikazes até ao encarniçamento da infantaria nas ilhas, pensava-se que a conquista final do Japão pudesse custar mais de dois milhões de baixas aos invasores e muitos mais às tropas e às milícias civis nipónicas.
O Projecto Manhattan começara nos Estados Unidos no pressuposto de que os alemães, cujos físicos eram pioneiros da pesquisa nuclear, estavam a construir a bomba atómica. Em Los Alamos, Novo México, J. Robert Oppenheimer dirigiu e coordenou a equipa que construiu as duas bombas que seriam lançadas sobre o Japão.
Perante os efeitos devastadores das novas armas, os japoneses render-se-iam, poupando os dois contendores ao preço de uma longa conquista. Os alvos iniciais foram Hiroshima e Quioto mas, por pressão do Secretário da Guerra, Stimson, Quioto foi retirada e substituída por Nagasaki.
No dia 6 de Agosto, o Enola Gay lançou a primeira bomba, Little Boy, sobre Hiroshima, matando cerca de 80.000 pessoas de imediato e deixando outras tantas com vontade de ter morrido. Três dias depois, Nagasaki recebia a segunda: mais 40.000 mortos.
A justificação ‘humanitária’ de Truman e dos seus conselheiros viria a ser duramente contestada e a polémica ainda não terminou. Os responsáveis militares americanos - como Eisenhower e o almirante Leahy - condenaram a bomba por inútil, já que o Japão estava a ponto de render-se. O próprio general Douglas MacArthur, comandante-em-chefe do Pacífico, que não fora consultado, mostrou-se crítico. O Japão render-se-ia desde que a dinastia continuasse. Que foi o que veio a acontecer.
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