11.9

José António Saraiva | Observador 17/08/2015

O número não poderia ser melhor para o Governo. O facto de, no fim do segundo semestre, o desemprego ter ficado abaixo dos 12% - que era o patamar em que estava quando Sócrates saiu -, constitui um trunfo eleitoral insubstituível.
Os 11.9 parecem saídos daqueles catálogos das grandes superfícies em que os produtos custam 9,99 euros, para não custarem 10.
É certo que o PS e a extrema-esquerda vieram relativizar o ‘feito’, falando dos que emigraram e dos que entretanto desistiram de procurar emprego.
Podem estar cheios de razão.
Mas os números têm muita força - e quem precisa de arranjar explicações é porque se sente na posição fraca.
E depois há outra coisa: quando os números do desemprego eram assustadoramente altos, na casa dos 17%, a esquerda nunca os contestou nem pôs em causa os critérios de apuramento, servindo-se naturalmente deles para atacar o Governo.
Ora, o que era bom ontem já não presta hoje?
Esta duplicidade afecta a credibilidade da oposição.
A questão ainda é mais sensível tendo em conta que a esquerda pensou a próxima campanha eleitoral muito em função da crítica ao desemprego.
Com a economia já a crescer, os juros da dívida a diminuir e a credibilidade externa do país a consolidar-se, a oposição elegeu o drama dos desempregados como um dos últimos temas que poderia explorar.
E estes 11.9 vêm prejudicar muito essa estratégia.
Sempre que daqui para a frente se falar em desemprego, os líderes da coligação PSD/CDS dirão - e repetirão as vezes que forem precisas - que, apesar da austeridade que era inevitável, o desemprego está abaixo do valor que o PS deixou como herança.
 E ainda não é tudo. Soube-se que algumas das pessoas que apareciam nos cartazes do desemprego não tinham dado autorização para isso - vindo até a denunciar publicamente a situação.
Para ajudar à festa, alguns desempregados não eram desempregados e outros haviam ficado desempregados no tempo de Sócrates!
Ou seja: o fotógrafo foi ali à Junta de Freguesia de Arroios, tirou umas fotografias a uns funcionários - e pespegou com elas em cartazes monumentais.
Ora, isto passa pela cabeça de alguém?
É amadorismo a mais!
Definitivamente, o tema ‘desemprego’ está enguiçado.
Por falar em números, recorde-se que António Costa avançou contra António José Seguro com o pretexto de que, nas europeias, este só ficara 3,5% à frente da coligação PSD/CDS - “apesar de todas as malfeitorias que o Governo fez aos portugueses”.
Ora, nas últimas sondagens, Costa está colado à coligação.
A sua vantagem é praticamente nula.
Começa, pois, a perder justificação o argumento que invocou para se candidatar.
Uma última palavra para dizer que, neste balanço de ‘deve e haver’, o Governo também não está isento de críticas.
O facto de ter acenado com o reembolso da sobretaxa foi um erro.
Ao falar de uma devolução que pode ou não acontecer, Passos Coelho deu um sinal de eleitoralismo - e permitiu que as suas previsões fossem contestadas na praça pública.
O Governo, até por ser Governo, deve falar de realidades e não de possibilidades.
Acenando com promessas, só se diminui.
Na questão da sobretaxa, o primeiro-ministro devia ter deixado as previsões e as projecções para os analistas e os comentadores.
P. S. - Um destes dias, o ex-líder parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, falava na TV em termos críticos sobre a estratégia usada pelo Banco de Portugal no caso do Grupo Espírito Santo.
Ora, se há alguém que não pode falar sobre isto, é o PS - que criou um monumental buraco com a nacionalização do BPN.
Se a nacionalização do BPN acarretou milhares de milhões de euros de prejuízo para o Estado, imagine-se o que aconteceria se, num colosso como o BES, o Estado tivesse seguido a mesma estratégia.
O país estaria hoje a braços com um buraco… colossal.
Não podemos brincar com coisas sérias.

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