Catalina, a pedofilia e a cumplicidade
Henrique Monteiro (www.expresso.pt)
10:39 Quarta feira, 12 de dezembro de 2012
Ontem, uns tantos leitores criticaram-me por pedir a uma senhora que se calasse (refiro-me ao que escrevi sobre Cândida Almeida). Mas hoje vou pedir a uma senhora que fale - Catalina Pestana.
Esta senhora disse ao 'Pùblico' que conhecia vários casos de pedofilia na Igreja. Só em Lisboa, diz ela, conhece cinco. E acrescentava, a propósito do escândalo no seminário do Fundão, que tinha reunido no ano passado com o porta-voz da Conferência Episcopal, padre Manuel Morujão, e com o então presidente da Conferência, o bispo D. Jorge Ortiga para denunciar esses casos.
Acontece que o padre Morujão vem dizer que é mentira. Que nem sequer conhece a senhora e nunca reuniu com ela. E adianta: ela que diga os nomes. Pessoalmente, reforço a ideia: ela que diga os nomes. Já as jornalistas do 'Público' que com ela falaram (Alexandra Campos e Sandra Rodrigues) lhe haviam perguntado por que razão não tinha denunciado os casos às autoridades. E citam a resposta: "Não somos da polícia!" (Catalina referia-se a si própria e ao psiquiatra Álvaro Carvalho, que a acompanharia nas denúncias).
Catalina, já no caso Casa Pia, dizia saber de tudo. Mas que se saiba só atuou depois das denúncias. Provavelmente, pensou que "não era polícia". O mesmo se passa agora. Ora, à segunda vez poderemos considerar cumplicidade com o crime o facto de estar calada? Não sou jurista, mas acho que ela deve falar antes que alguém a considere como tal...
É que, se na Casa Pia bastou ao Estado (de quem a instituição depende) ter pago uma indemnização às vítimas para se pôr fora do processo, no caso do Seminário do Fundão e da Igreja Católica já se sabe que a tolerância não será a mesma. Isso agrava a cobardia de Catalina, que parece querer lançar uma mancha geral sobre a instituição, em vez de denunciar os casos concretos que diz conhecer.
Com assuntos destes, não se pode fazer política, nem brincar, e menos ainda levantar o dedo só para aparecer nos jornais.
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