Quando o hã é não
Aqui em casa o "não" oficial é "hã?". Tanto eu como a Maria João ouvimos muito bem o que o diz o outro, mas quando respondemos a uma pergunta que preferiríamos que não nos fosse feita, respondemos "hã?", para ganhar tempo e sacar do ar uma inspiração para a resposta, que é sempre "não, porque...".
São valiosas as palavras que nos dão tempo. Num seminário de filósofos em Oxford, um deles fez uma pergunta e, depois de terem passado quinze minutos de silêncio, respondi uma coisa pensada à pressa, por pensar que estavam a ignorar o perguntador.
"There"s no hurry", disse um mais velho, percebendo o meu erro de principiante. Acabei por habituar-me a este luxo: quanto melhor for a pergunta, mais tempo merece que se pense nela. O silêncio é apenas o sinal do que demora o pensamento mais rápido de todos: o argumentativo e conversacional.
Será, com certeza, errado, porque deveríamos pensar horas e dias. Mas, por cortesia e pelo prazer frívolo de criar discussão, pensa-se depressa - menos de meia hora de silêncio - para que exista uma conversa não totalmente fútil, tida em tempo real, sem ser pensada, escrita, lida, criticada e repensada conforme as críticas.
Uma vez, demorou dez minutos de silêncio para me dizerem, em 25 minutos de argumento, que uma questão minha estava mal colocada, mas que, por ter sido mal levantada daquela maneira, tinha criado uma oportunidade para esclarecer que não era assim que se deveria proceder.
Ora bem.
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