Cada homem vale um universo

Por José Luís Nunes Martins, i-on-line 7 Jul 2012 - 03:00
O homem concreto não quer morrer mas morre. Esta existência, aqui, é finita e, talvez por isso mesmo, ainda mais valiosa
·        O homem concreto deverá ser o centro, o sujeito e o objeto, de toda a verdadeira filosofia. Só assim a busca de sentido terá algum proveito não lúdico.
Muito se escreveu já sobre a supremacia racional do homem sobre as demais espécies animais, mas talvez, permitam o sublinhado, talvez, o que mais nos diferencie seja o sentimento e não a razão. Amar é uma dinâmica a que nenhum outro animal sequer aspira.
São infelizmente cada vez mais os chamados intelectuais que se revelam como verdadeiros imbecis de sentimentos. Estúpidos de si. Julgam que se deve pensar com o cérebro e afastam-se a si mesmos da possibilidade de se entenderem a si e ao mundo de uma forma completa e profunda. É preciso pensar também com o corpo, com os ossos, com a vida que nos percorre e, com o coração que a faz correr. A ideia de cão não morde, assim como a ideia de homem não ama e, portanto, também não vive.
Passamos boa parte do tempo a construir com as nossas ideias estruturas inteligentes, mas que se fundam em irracionalidades, que, a todo o custo visamos substituir por algo que julgamos mais forte. Pese embora, em paz e longe dos livros e cadernos, sabermos bem que não somos feitos de lógicas.
Muitos são o que teimam em descobrir a linearidade que lhes parece existir na base de cada homem. São capazes de dedicar uma vida a isso, sem amar e, portanto, sem viver; buscando conhecer as quantidades e a geometria da existência, sem se darem conta que respiram e que, a cada respiração, se enchem de mundo e lhe entregam algo de seu, numa troca generosa e mágica... Vivemos uma vida que é única, em que cada instante é irrepetível, pelo que perder um simples minuto é... desperdiçar uma vida.
Todas e cada uma das coisas deste mundo se esforçam por perseverar no seu ser. A vida quer viver. Sempre. Ainda que muitas vezes a inteligência de uns quantos teime em lhes intoxicar a existência.
O singular não é particular, é universal. Cada homem não é um pedaço de nada, nem sequer se divide em partes; cada um de nós é um todo, único, indivisível e completo.
Cada homem é um universo, que quando se extingue, as estrelas, planetas e vazios que lhe dão forma, luz e substância desaparecem deste espaço-tempo. Mas a morte é um buraco negro, que nos leva daqui... para casa.
O homem concreto não quer morrer mas morre. Esta existência, aqui, é finita e, talvez por isso mesmo, ainda mais valiosa. Há, no entanto, mais mundos. Mais vida. Pode bem ser que este mundo seja parte de um todo maior, talvez uma aventura por onde se passa antes de retornar à nossa terra. Uma espécie de porta estranha que se atravessa para chegar ao lugar de onde se terá saído!
Não se consegue fugir da morte. Mas são muitos os que não percebem que a vida é o maior de todos os dons, e por isso fogem dela! Incapazes de compreender que por maior que seja a riqueza de um homem, o mais importante não se pode comprar – apenas se pode receber, generosa e gratuitamente, de quem nos amar. Sem que se apliquem, sequer, as lógicas de expectáveis reciprocidades...
Pensar na morte ajuda a compreender o que somos. A sua proximidade devia fazer-nos sentir mais vivos. Carregamos a nossa morte pela vida. Carregamos a fé de saber que a morte não nos destrói, apenas nos leva daqui...
Valerá a pena pensar, e amar, com o cuidado absoluto de deixar de lado tudo quanto não é senão mera superficialidade. O que sobra, muito pouco, abrace-se.
Investigador. Escreve ao sábado

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