O que significa ser novo, ser velho e ser ativo?

OJE – O Jornal Económico, http://www.oje.pt 13/07/12, 00:30
Por Maria Joaquina Madeira *

Temos hoje, nas nossas sociedades, razões para celebrar. Celebrar este enorme acontecimento civilizacional das pessoas viverem cada vez mais tempo e em melhores condições de saúde.

Na realidade, do ponto de vista individual, cada um de nós espera um "bónus" de anos a mais de vida, relativamente ao passado. Sinal de progresso, sem dúvida, mas, se o envelhecimento individual é uma boa nova, não poderemos aproveitá-lo devidamente se não soubermos descobrir o seu modo de utilização e se não tomarmos consciência, a tempo, da "nova" sociedade que está a nascer, deste enorme beneficio para os seres humanos que é a longevidade.

Este facto vai gerar um outro perfil sócio-demográfico na população, o que implica mudanças na organização dos sistemas sociais, de saúde, económicos, de forma a integrar esta realidade humana, diferente no nosso país.

Entre 1960 e a atualidade, o número de jovens (0 aos 14 anos) diminuiu 1 milhão e o número de pessoas idosas (65 e mais anos) aumentou 1,3 milhões. Por outro lado, os mais velhos, de 75 e mais anos, representam hoje quase meio milhão, tendo vindo, assim, a reforçar o seu peso estatístico.

O outro fator de envelhecimento demográfico é a redução do número de nascimentos. Todos sabemos que a taxa de fecundidade em Portugal não está, desde 1980, a substituir as gerações.

São urgentes políticas inteligentes que criem "ambientes amigos" da família e encorajadores de natalidade.

Importa evidenciar, no entanto, que a população que envelhece ainda está sujeita a preocupantes desigualdades sociais e económicas, verificando-se que o risco de pobreza das pessoas idosas representa 26,9% contra 24,1% da população em geral.

De entre estas, são as mulheres as mais atingidas pela pobreza e pela exclusão social. O perfil de pobreza destas nossas concidadãs é: viver só, em situação de carência económica e saúde precária, muito baixo nível de escolaridade e, frequentemente, vítimas de violência e de solidão.

O Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações vem alertar para estas situações que ainda necessitam de apoio, sensibilizar para o contributo dos/das mais velhos/as na sociedade, na sua maioria ativos/as e participativos/as e, finalmente, para a necessidade de, já hoje, aceitar o desafio da mudança, que a sociedade exige para a adaptação à nova realidade socio-demográfica que nos bate à porta.

Na verdade, são os próprios conceitos tradicionalmente utilizados das relações entre gerações que entram em crise.

O que significa ser novo, ser velho e ser ativo? E quem disse que os novos só têm de estudar, os ativos trabalhar e os idosos descansar?

É, pois, necessário "desconstruir" as normas do passado e encarar o futuro, já hoje, com uma nova maneira de pensar e logo de agir ativamente de forma diferente.

Bertrand Russell, célebre nonagenário que viveu até princípios da década de 70 do século XX, afirmou: "A sociedade que temos é fruto de uma mentalidade que criámos. Se queremos uma sociedade mais humana, temos de mudar o paradigma do nosso modo de pensar".

*Coordenadora do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações

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