Férias


DESTAK | 25 | 07 | 2012   19.02H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@ucp.pt
Em tempos de crise o período de férias é mais doloroso. Primeiro porque muita gente não as consegue gozar como costumava; depois porque muitos se encontram em férias forçadas o ano todo; finalmente porque até aqueles que as mantêm sentem o incómodo de gozarem enquanto o País sofre. Afinal, o que choca é contraste entre a recessão e as férias.
O choque é natural, saudável e deve levar à solidariedade. Mas ele liga-se a um dos piores mal--entendidos que rodeia a actual situação nacional. Portugal, mesmo no fundo da crise, tem hoje um nível de vida duas vezes e meia acima do 25 de Abril e 80% maior na entrada na CEE. Dificilmente isso é miséria.
Esta realidade nada tira ao terrível sofrimento de muitos, mais doloroso por ser inesperado e vir num país rico. Mas é bom não ignorar o facto de que somos realmente um país rico. Um país rico em crise.Tempos de dificuldade são sempre tempos de disparate. Algo no sofrimento estimula a tolice natural que reside em todos nós. Por isso tantos se esforçam por baralhar tudo com asneiras e ficções. Uma das mais poderosas é a ideia de que o País está na miséria, nunca saímos da cepa torta, estamos pior que nunca. Isto é simplesmente uma tolice.
Não deve surpreender que países ricos entrem em crise. No Japão, um país muito mais rico que nós, há duas décadas grassa uma crise muito pior que a nossa. É normal haver crises em países ricos. Aí elas doem tanto, ou talvez mais que nos pobres, por causa da surpresa e indignação. Isto apesar das diferenças. Por exemplo nas férias.

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