Mal Habituados
DESTAK | 11 | 07 | 2012 21.46H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@ucp.pt
O verdadeiro problema da Europa é andarmos mal habituados. Vivemos uma crise terrível, que pode pôr em causa o euro, a União, o equilíbrio económico. Apesar disto ser repetido sucessivamente por todos, ninguém sabe realmente o que significa. Já são poucas as pessoas vivas que passaram pela terrível miséria e desespero da desarticulação europeia.
Pior, estamos convencidos que esses horrores são coisas ultrapassadas, que os nossos mecanismos políticos e económicos conseguirão evitar facilmente. Em resumo, estão criadas as condições para nova enorme catástrofe civilizacional. Os desastres colossais acontecem quando os povos tomam precisamente esta atitude displicente. A arrogância modernista do início do século XX, quando o ser humano se convenceu que as ciências lhe davam poder absoluto sobre o mundo, foi a verdadeira causa das maiores desgraças da História: a depressão dos anos 1930 e as hecatombes nazi e marxista.
Depois, no fundo dos escombros de 1933, 1945 e 1989, a humanidade humilhada pelo desastre criou a ONU, NATO, União Europeia, moeda única e tantos outros mecanismos para assegurar a paz e a justiça.Hoje de novo domina uma geração que já não sabe o que é depressão, guerra e totalitarismo. Esses horrores são vagas imagens históricas. Por isso há tanta relutância na solidarieda-de e consenso europeus, sendo tão fácil criar zangas e encontrar obstáculos. Como nunca pensamos possível a calamida-de, qualquer inconvenien-te serve para evitar o acordo, o que nos leva à desgraça. O nosso mal é andarmos mal habituados.
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