Doutores e Comendadores
DESTAK |17 | 07 | 2012 20.08H
José Luís Seixas
O “episódio Relvas” que vai entretendo o País até à chegada do estio assoma-me à memória um escrito que fiz noutro contexto, já lá vão um par de anos: “E esta coisa, que aos nossos olhos de hoje parece fútil, dos reconhecimentos e das dignidades, teve relevância na construção das ambições ou, tão só, das disponibilidades, para o exercício deste tipo de funções. Recorde-se a mercantilização dos títulos nobiliárquicos no final da Monarquia, satirizada pelo célebre dito popular: “foge cão que te fazem barão /mas para onde se me fazem visconde?”.
O Corporativismo recebeu da República os títulos académicos como dignidades sociais – o Senhor Dr., o Senhor Engenheiro, o Senhor Bacharel – e completou a montra das importâncias com a figura impar do Senhor Comendador – do mérito industrial, do mérito comercial ou do mérito agrícola – permitindo que este ombreasse com aqueles nas primazias da respeitabilidade pública. Esperava-se dos Senhores Comendadores, geralmente abastados, que espalhassem alguns proventos e obséquios pelas actividades sociais. E o desporto de então, designadamente o futebol, consentia diletância e dava “panache”.
Com o advento da democracia os Comendadores ocultaram as Comendas (que das vitrinas das salas de estar passaram para os fundos falsos dos baús), mas as dignidades sociais permaneceram.” Retomando a actualidade, esta seria a solução. Retomar a velha tradição dos Comendadores como denominação social. E assim, em vez de um Dr. Relvas de créditos duvidosos, teríamos um Comendador Relvas. Bem como em vez de um Engenheiro Sócrates fabricado ao domingo, teríamos um Comendador Sócrates. As Ordens discutiam-se depois. Mas resolvia-se já o problema. E todos dormiríamos mais descansados.
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