No início do ano pastoral - A santidade, como programa pastoral

P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA
A voz da verdade, 2013-09-22
Em pleno Ano da Fé e à porta de mais um ano pastoral, o primeiro do pontificado do actual Senhor Patriarca, importa pedir a Deus a graça de um bom aproveitamento deste novo tempo de graça, de oração e de acção apostólica.
Já vão longe os tempos em que se podia pensar que todos os portugueses eram católicos. Talvez nunca o tenham sido todos, pelo menos no sentido pleno da palavra e do correspondente compromisso pessoal e social, mas agora sente-se, mais do que nunca, o fenómeno da descristianização, principalmente nas zonas urbanas e suburbanas. Há escolas em que os alunos católicos, se os houver na turma, se contam com os dedos de uma mão. Há famílias que se dizem cristãs mas, sem qualquer vivência religiosa individual ou comunitária. Como advertiu Bento XVI, na homilia pronunciada no Terreiro do Paço, a 11-5-2010, a suposição de que a fé existe é, cada vez, menos realista.
A Igreja é, pela sua própria natureza, missionária, e tem que sê-lo de novo na velha Europa. Tem que ir à procura das ovelhas perdidas, não já a centésima extraviada, mas as noventa e nove que, em cem, abandonaram o redil do Senhor. E esta é uma missão que a todos, sem excepção, incumbe realizar. Na verdade, se não formos nós as suas testemunhas no próprio ambiente, quem – questionou Bento XVI no Porto – o será em nosso lugar?! «O cristão é» – prosseguia o Papa emérito – «na Igreja e com a Igreja, um missionário de Cristo enviado ao mundo. Esta é a missão inadiável de cada comunidade eclesial: receber de Deus e oferecer ao mundo Cristo ressuscitado, para que todas as situações de definhamento e morte se transformem, pelo Espírito, em ocasiões de crescimento e vida».
Foi ainda Bento XVI quem alertou para a urgência do desafio da evangelização, que deve ser uma prioridade para todas as estruturas pastorais, se não se quiserem limitar a uma pastoral de subsistência que, a bem dizer, nem a sobrevivência poderia garantir. «Temos de vencer a tentação de nos limitarmos ao que ainda temos, ou julgamos ter, de nosso e de seguro: seria morrer a prazo, enquanto presença da Igreja no mundo, que aliás só pode ser missionária, no movimento expansivo do Espírito» (Idem).
Foi também o Papa emérito quem, em Portugal, sem excluir a necessidade de um mínimo de organização apostólica, teve a ousadia de chamar a atenção para o perigo de uma certa burocracia pastoral: «Colocou-se uma confiança talvez excessiva nas estruturas e nos programas eclesiais, na distribuição de poderes e funções» – advertiu na sua primeira homilia em solo pátrio – «mas que acontece se o sal se tornar insípido?».
O programa há-de ser, sem dúvida, o de Cristo. E qual é o programa pastoral de Cristo? O próprio Cristo: «Segue-me e eu farei de ti pescador de homens». Como ensina o Concilio Vaticano II, «deve-se seguir o mesmo caminho de Cristo: o caminho da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação própria até à morte, de que Ele saiu vencedor pela sua ressurreição» (Decreto Ad gentes, 5).
O Mestre não nos deu uma lição teórica de pastoral, nem uma nova estratégia religiosa, nem um conjunto de tácticas proselitistas mais ou menos infalíveis, mas deu-Se a si mesmo, como modelo a imitar por todos, porque todos somos ovelhas do seu rebanho. O grande desafio pastoral é a santidade pessoal: não em vão os santos foram, e continuam a ser, os grandes evangelizadores, os mais eficazes agentes da pastoral.   
Esse foi o caminho que trilharam os Papas santos, como João XXIII e João Paulo II, e esse é também o caminho do Santo Padre Francisco. Com ele e com os nossos Bispos, façamo-nos agora, neste começo do ano pastoral, ao Caminho que o próprio Cristo é, recordando que, como dizia o poeta António Machado, é a andar que se faz o caminho.

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