Hollande e a vingança de W.Bush

Henrique Monteiro
Expresso, Sexta feira, 6 de setembro de 2013

No dia 6 de maio de 2012 escrevi no Facebook que François Hollande, apesar do discurso, ia ser igual aos outros. Os comentadores de esquerda, que são sempre muitos e ativos, desfizeram-me.
Não acho que tenha sido injusto, e apesar de recordar a esperança (penso que sincera) com que os dirigentes socialistas portugueses aguardavam a vitória deste seu camarada, sinto que existe, agora, uma proporcional desilusão.
Poderemos discutir se Hollande não fez porque não pôde, porque não soube, ou porque não quis. Mas há um aspeto, para além da política económica que a mim me deixa siderado.
É que todos eles foram arautos do pacifismo, da prudência, da legalidade na guerra contra o Iraque. Todos atacavam Bush por ter avançado sem autorização da ONU, mas agora nada dizem sobre a disposição de Hollande se atirar à Síria. Disposição essa que se manteve intacta mesmo depois de o Parlamento britânico ter vetado idêntica iniciativa de Cameron e apesar de Obama, cuidadosamente, deixar a decisão para o Congresso. O próprio Papa pediu a Putin que aproveitasse a cimeira que neste momento decorre em São Peteresburgo para tentar demover o presidente francês. Mas, aparentemente, Hollande, apesar de 74% dos franceses quererem que ele submeta a decisão ao Parlamento, refugia-se na letra da lei que lhe dá a prerrogativa de declarar uma intervenção militar. E espera o que dirá o Congresso americano...
Sobre Hollande, a esquerda portuguesa guarda respeitoso silêncio, prerrogativa que não costuma conceder a ninguém. 
Exceciono desta crítica o histórico Alfredo Barroso. Até agora o único que vi criticar a decisão de Hollande e anunciar que deixa o PS se os socialistas portugueses apoiarem uma intervenção contra Damasco.
A moral desta história é simples: a justeza de uma ação não depende da própria ação mas da orientação política de quem a executa. Hollande bem pode ser, por ironia, a vingança de George W. Bush sobre todos os que o acusaram de coisas que nem vale a pena repetir.

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