As autárquicas de ontem (a frio)

Henrique Monteiro
Expresso, Segunda feira, 30 de setembro de 2013
À hora em que escrevo estas linhas a soma dos votos do PSD e do CDS corresponde a 35%. O PS, que concorreu sozinho em todo o lado, salvo no Funchal, tem cerca de 36,1 por cento.
À hora que escrevo estavam apuradas 97% das freguesias e o PS tinha ganho a maioria das Câmaras e, por essa via, a direção da Associação Nacional de Municípios.
Daqui eu tiro conclusões que não são totalmente iguais ao que por aí corre. E são estas:
1)      O PSD foi fortemente penalizado (sem coligações não chega aos 18%), mas o PS não esmagou a direita. Os 36% socialistas, tendo em conta o estratosférico score de António Costa em Lisboa, não são extraordinários. Sobretudo se comparados com a soma 35% dos partidos do Governo, depois de este ter subido os impostos, ter cortado os salários e reduzido diversos direitos. Passos Coelho podia dar-se por satisfeito por não ter perdido mais que isto. O PS para ter aquela vitória que o embalasse para a maioria absoluta numas legislativas precisava de andar acima ou à volta do 40%. 
2)      Acresce que o PSD tendo sido corrido de certas câmaras emblemáticas, como o Porto, Sintra ou Gaia, por vezes de forma humilhante, manteve cidades que já dominava  - Viseu, Aveiro, Bragança, Faro, Santarém e ganhou outras como Braga e Guarda. Em contrapartida, o PS conseguiu ganhar algumas câmaras emblemáticas ao PSD, como Gaia, Vila Real, Sintra e Coimbra, mas perdeu outras não menos emblemáticas para os partidos do Governo (Braga e Guarda) e outras para a CDU, como Loures, Évora e Beja.
3)      O grande vencedor da noite acaba por ser a CDU, com mais de 11%. Não só consegue manter Setúbal, a única capital de distrito que detinha, como conquista Évora, Beja e, surpreendentemente, Silves (ao PSD), no Algarve, que perdera há décadas.
4)      O grande perdedor da noite, para além do PSD, é o Bloco de Esquerda. É ridículo que um partido que não chega a representar 2,5% e não ganhou uma única eleição, possa cantar vitória.
5)      As leituras frias deixaram de contar em política. As primeiras impressões é que contam.  E as primeiras impressões são de uma enorme fragilidade do Governo (que tem um Orçamento para apresentar no Parlamento) e uma legitimidade que ontem em quase todos os comentários, como de resto ao longo desta semana vai ser posta em causa. Não sabendo relativizar as derrotas autárquicas, que são fatais como o destino em eleições locais a meio de mandatos complicados, a liderança do PSD deixou instalar a ideia de que só houve desgraças. Talvez esta tenha sido a verdadeira desgraça do PSD. Porque os resultados em si, sendo maus, não são irrecuperáveis. Afinal, em 1989, depois de perder Lisboa e Porto e ter ficado com Leiria e Viseu como as únicas capitais de distrito, o PSD de Cavaco conseguiu uma maioria absoluta dois anos depois, em 1991. Não digo que é o que vai acontecer, apenas que estesresultados têm de ser vistos com uma frieza diferente.

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