Hospital lisboeta faz procedimento inédito em bebé

O Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, realizou, a semana passada, uma cirurgia inédita. A intervenção serviu para abrir a vávula pulmonar num bebé  com pouco mais de um quilo e apenas 28 dias de vida.
 
Devido ao baixo peso da criança, tratou-se de um procedimento pioneiro em Portugal, realizado com sucesso e em conjunto com a equipa de neonatologia do Hospital de Santa Maria, também na capital portuguesa.

A cirurgia não exigiu que se abrisse o coração, sendo a válvula desobstruída com recurso a um catéter introduzido pela veia da perna e conduzido até ao coração.

O cardiologista pediátrico responsável, Rui Anjos,  explicou à Lusa que o bebé tinha um diagnóstico pré-natal de doença cardíaca -  uma estenose da válvula pulmonar - e de acumulação de muitos líquidos, em consequência da patologia.

A criança nasceu com 1,100kg e teve que ser imediatamente entubada e ligada  ao ventilador. A válvula  que leva sangue do ventrículo direito do coração para os pulmões estava demasiado apertada e provocou a acumulação generalizada de líquido, que estava a colocar a vida do bebé em sério risco.

Após a extração dos líquidos, a criança ainda ficou durante vários dias em situação instável a nível cardíaco e respiratório, o que impediu uma intervenção imediata. No entanto, "à medida que o tempo foi passando, percebemos que o aperto da válvula pulmonar o impedia de progredir".
Procedimento é muito raro até a nível internacional

"Então decidimos que, apesar do baixo peso,  o bebé não iria a lado nenhum se não lhe abríssemos a válvula", justificou Rui Anjos. Foi precisamente a prematuridade do bebé que tornou este procedimento inétido, uma vez que nunca uns órgãos tão jovens  tinham sido alvo de uma intevenção deste tipo. "Mesmo internacionalmente é muito raro", salientou.

"Um quilo é um pacote de açúcar. Este procedimento, em bebés de peso normal, acima dos três quilos, já se faz com certo à vontade", mas para uma criança com tão baixo peso nem sequer há material específico, salientou o especialista. Como tal, os médicos precisaram de recorrer a "material que se utiliza habitualmente para tratar artérias coronárias num adulto". 

"Foi o que usámos para fazer a dilatação neste bebé, primeiro com um  cateter, depois com fios e balões. Dilatámos a válvula, correu bem, sem intercorrência nenhuma, mas foi tecnicamente difícil" e um trabalho de grande precisão, explicou Rui Anjos.

Ainda segundo o responsável, a veia da perna tinha menos de um milímetro e a válvula tinha apenas três milímetros, o que significa que um movimento mais brusco poderia resultar no rompimento de um vaso sanguíneo.

No próprio dia em que foi sujeito à intervenção, o bebé voltou para Santa Maria. Cinco dias depois, o ventilador foi finalmente desligado. 

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