Um lamento

Tiago Cavaco
Voz do Deserto, 2015.11.20

Os dias são fáceis quando, sendo cristãos, sentimos que a cidade que habitamos não está assim tão longe do que o céu vai ser. Mas quando os dias nos mostram a cidade mais como cativeiro, fica mais difícil. Hoje é um destes dias difíceis. Hoje é uma dia em que me sinto na Babilónia sem esperança de voltar a pôr os olhos em Sião.
A tentação é a auto-comiseração. E a auto-comiseração é muito perigosa porque vem com uma capa de humildade. Mas é uma arrogância. A auto-comiseração mete-nos a sentir pena de nós próprios porque, bem vistas as coisas, os outros, que não nos merecem, não nos tratam de acordo com aquilo que achamos que valemos. Para mim a maior tentação hoje, que vejo a adopção homossexual ser tratada como um progresso civilizacional, nem é tanto o ódio aos meus adversários. É o amor doentio por mim mesmo. É achar-me o salvador da minha existência e da existência dos outros.
A cura é diferente. É manter-me judeu na babilónia, não desistir dos outros quando já desistiram de nós, é querer construir quando já só vemos ruínas nos maiores monumentos da cidade. Porquê? Para que os outros se rendam às evidência da minha força de carácter? Céus, não. A força do carácter dos homens é o que nos levou aqui. É apenas para insistir na imitação de Cristo. Cristo na cruz. A ressurreição virá depois e não há como queimar etapas.
Cristãos: andamos a trabalhar muito mal (é escandaloso o modo como católicos e evangélicos assobiaram para o lado). Temos de trabalhar melhor. A nosso favor e a favor dos nossos adversários. Baza.

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