“Marisa, Presidente” em outdoor e “Marcelo, Presidente” em indoor.

Antonio Bagão Félix, Público 20151124

Há poucos dias, um amigo britânico perguntava-me, com ar algo admirado, se Mariza se iria candidatar à Presidência da República? Confesso que não percebi a pergunta de imediato.
É que ele já tinha visto um outdoor com a inscrição “Marisa, Presidente” e a questão advinha de a fotografia não coincidir com a face da magnífica fadista portuguesa, o que o deixara confundido. Só uns dias depois vi esse outdoor (bem feito, aliás), mas, logo na altura da nossa conversa, acabei por perceber aquilo que o meu amigo não conhecia. Lá lhe disse que Marisa (com s) Matias vai ser a candidata indicada pelo Bloco de Esquerda, pelo que o fado de Mariza (com z) não iria ser cantado na campanha eleitoral (o que até é pena, digo eu…).
Desta genuína confusão de quem não é obrigado a acompanhar a coreografia política nacional, pus-me a pensar num hábito muito arreigado por cá. Um hábito de que não damos conta, mas evidencia uma diferença que pode ter várias (ou nenhumas) interpretações: desde uma lógica predominantemente machista, ou mesmo marialva, a uma identidade feminina que entra mais directamente no coração das pessoas pela via do nome próprio. Explicando melhor: é corrente chamar uma mulher, jovem ou mesmo adulta, pelo seu nome próprio e não tanto pelo apelido, ao invés do que se passa quando nos referimos a homens. É assim no mundo artístico, nas figuras mais públicas ou conhecidas, na vida escolar (chama-se a Ana ou a Sofia, enquanto se diz o Neves e o Lopes (ou, em alternativa, o António Neves e o Carlos Lopes), na relação social em geral e, até na própria política. O caso mais recente é o da candidata também presidencial tratada, em regra, pelo nome próprio (Maria de Belém). Não me imagino a ver um cartaz com “António Presidente” referindo-se a António Sampaio da Nóvoa. A excepção que confirma a regra é Marcelo, pois que o decurso do tempo, a televisão, a personalidade tornaram o “professor” num dos de lá de casa. Essa é uma das suas vantagens. Por isso, pode bem dispensar outdoors e afins. Bastam-lhe os indoor.

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