A nova ordem

João Távora, 30 Nov 2015

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Se os exames do primeiro ciclo provocam ansiedade e acentuam a discriminação das crianças desfavorecidas, o que dizer dos erros ortográficos? O meu filhote pequeno que o diga, as lágrimas vêem-lhe aos olhos sempre que lhe corrigimos um. A caligrafia, essa é uma causa perdida. Não será a escrita afinal um elemento opressivo da livre expressão e criatividade da miudagem, um obstáculo à sua afirmação entre iguais? Consta que alguns sistemas de ensino já adoptaram esta filosofia igualitarista, em prol da felicidade e bem-estar dos fedelhos. Como se a felicidade não fosse acima de tudo um dom ou uma aprendizagem empreendida por cada pessoa no seu interior justamente na superação das dificuldades. No mesmo sentido a “retenção”, uma designação benigna e simpática atribuída ao antigo “chumbo” que tanto pesou como ameaça nas cabeças de alunos cábulas como eu, há muito está em vias de ser banida como instrumento pedagógico. Porque não se lembraram ainda estas sumidades de libertar de vez a comunidade da repressão da matemática? Afinal é a aritmética a base ideológica da austeridade, e as contas de multiplicar a ferramenta preferida do capitalismo. Depois, o resultado exacto e indiscutível de uma conta de diminuir pode significar uma violência traumática para o inocente infante. Claro que os números podem servir sempre para a recriação da criançada, disponibilizados em peluche para serem apertados com muito carinho ou arremessados uns aos outros como numa luta de almofadas. De caminho, sugiram-se também medidas preventivas em relação à capacidade de concentração, definitivamente um atributo a reprimir entre os alunos, por ser profundamente discriminatória quanto aos resultados da aprendizagem. Pior ainda se essa qualidade for associada à eloquência e à criatividade - não estaríamos nós na iminência de um perigoso cidadão autónomo e livre?

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