No jornalismo não vale tudo
RR 08-01-2014 14:21
José Luís Ramos Pinheiro
Mário Soares goza de uma generosa tolerância a que muito poucos podem aspirar. Se os comentários que teceu sobre Eusébio viessem da boca de outros dirigentes, teriam caído o Carmo e a Trindade. Mas respeitar Mário Soares implica estender-lhe o microfone por tudo e por nada?
As declarações de Mário Soares a propósito da morte de Eusébio têm sido vivamente discutidas, sobretudo nas redes sociais; declarações penosas, para mais, no momento e no contexto em que foram proferidas.
Não duvido que, se tais comentários viessem da boca de outros dirigentes, teriam caído o Carmo e a Trindade; e de imediato se falaria em ofensas insuportáveis à memória de Eusébio.
Mas sendo o último e mais carismático líder da geração política pós-25 de Abril, Mário Soares goza de uma generosa tolerância a que muito poucos podem aspirar. A mesma tolerância que permite quase silenciar as incómodas declarações sobre Eusébio, autoriza depois todos os pretextos para extrair regularmente a Mário Soares as declarações mais bombásticas sobre temas variados, glosando-as até à exaustão.
Ninguém ignora, porém, que o ex-presidente da república é hoje, compreensivelmente, uma pessoa diferente, fruto da idade respeitável e avançada. Algumas pessoas, nestas circunstâncias, acabam por dizer o que não querem ou o que não devem; ou de um modo que noutro tempo nunca diriam.
Respeitar Mário Soares implica, hoje em dia, estender-lhe o microfone, por tudo e por nada? Ou, pelo contrário, passa muito mais por não ceder à tentação fácil de obter hoje, uma declaração mais sensacional do que a registada ontem?
Mário Soares teve momentos melhores e piores na sua vida pública, mas o país deve-lhe alguns serviços notáveis, designadamente no período de consolidação do regime democrático.
Acontece que neste momento, o mais importante não é discorrer sobre as virtudes e defeitos de Mário Soares, nem debater a folha de serviços prestados ao país.
Mais do que desvendar o seu real pensamento, muitas declarações de Mário Soares nos últimos meses, potenciadas pela avidez de alguns "media", evidenciam sobretudo as fraquezas de um pseudo-jornalismo de microfone estendido, transformado numa espécie de obsessão incessante pelo insólito, gerador de um frenesi reactivo, colectivo, epidérmico e em cadeia.
Por isso, o mais importante é mesmo revisitar o jornalismo e de rever os seus critérios, não deixando de ponderar os preceitos deontológicos quanto às condições de recolha de declarações e de imagens (conforme nº9, do código deontológico dos jornalistas).
Sem qualquer paternalismo, quem não gostaria, no caso de um familiar nosso, de o ver protegido e preservado, em vez de mediaticamente exposto, explorado ou usado?
Não duvido que, se tais comentários viessem da boca de outros dirigentes, teriam caído o Carmo e a Trindade; e de imediato se falaria em ofensas insuportáveis à memória de Eusébio.
Mas sendo o último e mais carismático líder da geração política pós-25 de Abril, Mário Soares goza de uma generosa tolerância a que muito poucos podem aspirar. A mesma tolerância que permite quase silenciar as incómodas declarações sobre Eusébio, autoriza depois todos os pretextos para extrair regularmente a Mário Soares as declarações mais bombásticas sobre temas variados, glosando-as até à exaustão.
Ninguém ignora, porém, que o ex-presidente da república é hoje, compreensivelmente, uma pessoa diferente, fruto da idade respeitável e avançada. Algumas pessoas, nestas circunstâncias, acabam por dizer o que não querem ou o que não devem; ou de um modo que noutro tempo nunca diriam.
Respeitar Mário Soares implica, hoje em dia, estender-lhe o microfone, por tudo e por nada? Ou, pelo contrário, passa muito mais por não ceder à tentação fácil de obter hoje, uma declaração mais sensacional do que a registada ontem?
Mário Soares teve momentos melhores e piores na sua vida pública, mas o país deve-lhe alguns serviços notáveis, designadamente no período de consolidação do regime democrático.
Acontece que neste momento, o mais importante não é discorrer sobre as virtudes e defeitos de Mário Soares, nem debater a folha de serviços prestados ao país.
Mais do que desvendar o seu real pensamento, muitas declarações de Mário Soares nos últimos meses, potenciadas pela avidez de alguns "media", evidenciam sobretudo as fraquezas de um pseudo-jornalismo de microfone estendido, transformado numa espécie de obsessão incessante pelo insólito, gerador de um frenesi reactivo, colectivo, epidérmico e em cadeia.
Por isso, o mais importante é mesmo revisitar o jornalismo e de rever os seus critérios, não deixando de ponderar os preceitos deontológicos quanto às condições de recolha de declarações e de imagens (conforme nº9, do código deontológico dos jornalistas).
Sem qualquer paternalismo, quem não gostaria, no caso de um familiar nosso, de o ver protegido e preservado, em vez de mediaticamente exposto, explorado ou usado?
Comentários