Eusébio sempre
26 de Julho de 1966: Portugal perde contra a Inglaterra nas meias-finais do Mundial. Recordo a imagem do convulsivo choro de menino de Eusébio, no final do jogo. Dois dias depois, a nossa selecção vence a União Soviética e alcança o 3.º lugar. Recordo o penálti marcado por Eusébio logo seguido de um abraço ao então melhor guarda-redes do mundo, Lev Yashin. A lágrima na derrota e o abraço ao adversário na vitória unidos no jogador excepcional e no homem bom que foi Eusébio.
Nestes dois aparentes pormenores está, pois, uma parte significativa do que ele foi. Não apenas o fabuloso jogador que está entre os melhores de sempre no mundo, mas também a pessoa apaixonada por Portugal e pelo Benfica, o desportista leal, exemplar, simples, solidário, sem tiques de vedetismo, acima e para além da efemeridade de cada momento.
Inigualável não apenas nos seus quase incontáveis golos e soberbas exibições, mas no exemplo de trabalho, de dever, de sacrifício, de abnegação, de entrega, de autenticidade, de companheirismo, até de utopia e de sonho. E que sempre soube adicionar à universidade que foi a sua vida a universalidade do consenso que foi capaz de gerar.Nestes dois aparentes pormenores está, pois, uma parte significativa do que ele foi. Não apenas o fabuloso jogador que está entre os melhores de sempre no mundo, mas também a pessoa apaixonada por Portugal e pelo Benfica, o desportista leal, exemplar, simples, solidário, sem tiques de vedetismo, acima e para além da efemeridade de cada momento.
Num tempo em que a globalização ainda não o era, num tempo em que a informação e a imagem se espalhavam à velocidade da tartaruga quando comparada com a alucinação e a vertigem de agora, Eusébio foi uma projecção de portugalidade no mundo global, a par de Amália. Como escreveu Torga "o universal é o local sem paredes". Eusébio ultrapassou o mapa de Portugal e derrubou todos os muros. Os de cá e os de lá fora.
Para mim, Eusébio representa uma certa expressão do desporto que deixou de ser a norma. Onde o que contava era tão-só o futebol jogado. De paixão pura, sem adiposidades. Sem mediatismos bacocos feitos de lugares-comuns e onde a iconografia era a do exemplo no trabalho e não a da imagem no mercado. Num tempo em que as vitórias não eram apenas uma forma de aumentar a retribuição, mas uma compensação de quem sentia devotadamente a camisola que envergava.
Eusébio: um curto nome de cinco vogais e duas consoantes que se eternizou. Semanticamente poderia estar num qualquer "Dicionário de Língua Universal", porque intemporal e universal. Ultrapassou a onomástica e a geografia. Pertence ao mundo e tem significado próprio.
O Benfica tinha 37 anos quando Eusébio nasceu em Moçambique e 57 anos quando se estreou no clube. Não é possível calcular quantos benfiquistas (ou simples amantes do futebol) há hoje por causa dele. Mas, certamente, muitos…
A minha geração viu e viveu os jogos de Eusébio. Na altura, sem a profusão televisiva de hoje, mas com o sabor que era ir ao Estádio ou com a magia proporcionada pelo relato radiofónico. Faz, assim, parte do meu reduto memorial. Que me ensinou definitivamente que ser Benfica é, ao mesmo tempo, afecto e privilégio, coração e razão, vitamina e analgésico, fermento e adoçante.
Por tudo, um obrigado do tamanho do universo a Eusébio!
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