Dos cobardes a História vai rezar
Negócios online 19 Setembro 2012 | 23:30
Helena Garrido - Helenagarrido@negocios.pt
Sim, foi inacreditável, a forma como se apresentou as alterações à TSU. Mas pior ainda, mais grave e até triste, é assistir à desresponsabilização e irresponsabilidade do PP e do PS. Para eles, para Paulo Portas e António José Seguro, é mais importante garantir votos de curto prazo do que defender o interesse de Portugal e respeitar os sacrifícios que os portugueses já fizeram.
Sim, foi inacreditável, a forma como se apresentou as alterações à TSU. Mas pior ainda, mais grave e até triste, é assistir à desresponsabilização e irresponsabilidade do PP e do PS. Para eles, para Paulo Portas e António José Seguro, é mais importante garantir votos de curto prazo do que defender o interesse de Portugal e respeitar os sacrifícios que os portugueses já fizeram.
É muito inspirador o discurso de Paulo Mota Pinto no primeiro dia do ano parlamentar, a 19 de Setembro. "A História não perdoará a quem abandonar o barco". E, para quem se esqueceu, lembra que um "homem de Estado não é quem persiste em dizer ‘não’ aos consensos que o país precisa" nem "quem quer dizer sim e não ao mesmo tempo". Duas descrições que ajustam que nem uma luva a António José Seguro e Paulo Portas. Um e outro precipitaram-se no calor da irritação, justificada, que gerou a forma como o primeiro-ministro nos disse que para o ano íamos ter menos 7% todos os meses nos nossos bolsos.
Mas este caso da TSU não pode servir de pretexto para se destruir tudo aquilo que já se construiu com sacrifícios. Durante o último ano, os portugueses pouparam mais, trabalharam mais, apoiaram quem na sua família ou ao seu lado estava no desemprego ou em dificuldades, procuraram emprego no estrangeiro, exportaram mais, cortaram custos nas suas empresas, aceitaram cortes salariais... Ajustaram-se, como dizem os economistas na sua fria linguagem. Cada "ajustamento" é uma história de sacrifício, de busca dolorosa de soluções para problemas financeiros concretos, na expectativa de ver o país regressar à prosperidade. Levará um ano, dois, três anos? Tudo bem. Mas façamos o que é preciso fazer, em conjunto.
As lideranças políticas têm a obrigação de respeitar quem perdeu o emprego e quem vive na angústia de ver a vida a andar para trás. E cada uma das histórias de sacrifício tem de estar na consciência antes de cada decisão tomada pela classe política, no governo como na oposição. Assim como é preciso que todos retirem as devidas consequências da responsabilidade que têm pelo estado em que está o país. PS, PSD e PP, os partidos do arco da governação, estiveram durante anos a atirar o país para o buraco em que está ou porque fugiram ou porque foram adiando decisões difíceis para ganharem eleições.
Pedro Passos Coelho tem uma oportunidade única para revelar que é um homem de Estado, resistindo à tentação de bater com a porta em resposta à traição de uns e à irresponsabilidade de outros. Claro que não seria o primeiro a sair por incapacidade de enfrentar os poderes e interesses instalados, que vão dos grupos económicos aos partidos políticos. Mas exactamente porque outros já desistiram, precisamos de quem não desista.
Precisamos ainda que o Presidente da República não caia na tentação de entregar o poder a um independente. Os partidos criam os problemas, os partidos têm de os resolver. Contribuir para uma democracia saudável e mais madura é entregar aos partidos a tarefa de resolver problemas que significam sacrifícios para o seu eleitorado.
Não é sofisticado, não é ciência nem filosofia política, mas o que de facto se quer de quem pode governar em tempos difíceis é que tenha coragem, seja responsável e não caia na tentação da traição para se safar. Portugal passou com elogios das instituições internacionais e de líderes europeus na quinta avaliação da troika. Não vamos perder o pouco, muito pouco, que já conseguimos na resolução desta crise.
É muito inspirador o discurso de Paulo Mota Pinto no primeiro dia do ano parlamentar, a 19 de Setembro. "A História não perdoará a quem abandonar o barco". E, para quem se esqueceu, lembra que um "homem de Estado não é quem persiste em dizer ‘não’ aos consensos que o país precisa" nem "quem quer dizer sim e não ao mesmo tempo". Duas descrições que ajustam que nem uma luva a António José Seguro e Paulo Portas. Um e outro precipitaram-se no calor da irritação, justificada, que gerou a forma como o primeiro-ministro nos disse que para o ano íamos ter menos 7% todos os meses nos nossos bolsos.
Mas este caso da TSU não pode servir de pretexto para se destruir tudo aquilo que já se construiu com sacrifícios. Durante o último ano, os portugueses pouparam mais, trabalharam mais, apoiaram quem na sua família ou ao seu lado estava no desemprego ou em dificuldades, procuraram emprego no estrangeiro, exportaram mais, cortaram custos nas suas empresas, aceitaram cortes salariais... Ajustaram-se, como dizem os economistas na sua fria linguagem. Cada "ajustamento" é uma história de sacrifício, de busca dolorosa de soluções para problemas financeiros concretos, na expectativa de ver o país regressar à prosperidade. Levará um ano, dois, três anos? Tudo bem. Mas façamos o que é preciso fazer, em conjunto.
As lideranças políticas têm a obrigação de respeitar quem perdeu o emprego e quem vive na angústia de ver a vida a andar para trás. E cada uma das histórias de sacrifício tem de estar na consciência antes de cada decisão tomada pela classe política, no governo como na oposição. Assim como é preciso que todos retirem as devidas consequências da responsabilidade que têm pelo estado em que está o país. PS, PSD e PP, os partidos do arco da governação, estiveram durante anos a atirar o país para o buraco em que está ou porque fugiram ou porque foram adiando decisões difíceis para ganharem eleições.
Pedro Passos Coelho tem uma oportunidade única para revelar que é um homem de Estado, resistindo à tentação de bater com a porta em resposta à traição de uns e à irresponsabilidade de outros. Claro que não seria o primeiro a sair por incapacidade de enfrentar os poderes e interesses instalados, que vão dos grupos económicos aos partidos políticos. Mas exactamente porque outros já desistiram, precisamos de quem não desista.
Precisamos ainda que o Presidente da República não caia na tentação de entregar o poder a um independente. Os partidos criam os problemas, os partidos têm de os resolver. Contribuir para uma democracia saudável e mais madura é entregar aos partidos a tarefa de resolver problemas que significam sacrifícios para o seu eleitorado.
Não é sofisticado, não é ciência nem filosofia política, mas o que de facto se quer de quem pode governar em tempos difíceis é que tenha coragem, seja responsável e não caia na tentação da traição para se safar. Portugal passou com elogios das instituições internacionais e de líderes europeus na quinta avaliação da troika. Não vamos perder o pouco, muito pouco, que já conseguimos na resolução desta crise.
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