A Tradição não é o que dizem ser
João Afonso Machado
Corta-fitas, 2012-09-05
Ainda a propósito de touradas constato a convicção de muitos em que o principal argumento "pró" reside na manutenção da nossa "tradição cultural".
Eis o que me parece absolutamente descabido.
Quer queiramos, quer não - quer se goste, quer não se goste - a lide tauromáquica é uma arte. Dela fazem parte a destreza de cavaleiros e toureiros apeados, o ensino equestre, a audácia e habilidade dos forcados... tudo em órbita do toiro. Sem dúvida a vítima, capaz, por seu turno, de causar outras vítimas, alguns dramas, sempre que os artistas não são suficientemente dotados ou, simplesmente, se o azar lhes bate à porta. Mas sobre isso... diga-se apenas, quem corre por gosto não cansa.
E o importante é perceber o que acontece dentro das praças de toiros. A aficion. O entusiasmo, a alegria, o colorido, a transversalidade social da "festa". Em suma, está-se ali por paixão ou tão-só curiosidade. Ah!, já agora, - sem hooliganismos. E nunca em homenagem à dita nossa "tradição cultural", até porque o momento é de gáudio e nunca de conceptualismos.
O que interessa afinal: as tradições não subsistem pelo simples facto de o serem. São-no porque se materializam em acontecimentos que persistem em captar a simpatia e a adesão das gentes.
Já Antoine de Rivarol escreveu: «as instituições do Passado não são boas por serem antigas; são antigas por serem boas»...
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