Carnaval nacional

José Luís Seixas
DESTAK |07 | 02 | 2012   17.28H
Andava o País distraído com minudências – o aumento do desemprego, a recessão, a desagregação europeia – e o Primeiro-Ministro, com aquele seu ar de mestre-escola a repreender carinhosamente os alunos, proclamou a morte do Entrudo. Ou, dito com mais rigor, anunciou que este ano não concederia a costumeira tolerância de ponto no dia de Carnaval. 
Segundo vozes, muitas vozes, o Dr. Passos Coelho, que aparenta não gostar de folias, feriu no âmago uma tradição portuguesa e, com a sua conduta impensada, provocou sério prejuízo à economia. 
Alienígena que aterrasse neste canto extremo da Europa pensaria que o Carnaval era um momento determinante do equilíbrio emocional dos portugueses e que compreendia uma larga história que abrilhantava as cores pátrias. Sujeitar o povo ao suplício do trabalho nesse dia seria, pois, um acto sacrílego, tentado no passado pelo insensível Doutor Cavaco sem êxito e com algum infausto. 
Ora, se bem recordo, além de umas figuras tristes de quarentões alcoolizados trajados de matronas e de umas quantas pretensas réplicas das escolas de samba com muitas brasileiras de carnes roxas tiritando de frio, nada me ocorre de continentalmente relevante que marque o Carnaval Português. 
Mais, suprimidos feriados e reduzidas as férias só um anacronismo demagógico justificaria atitude diversa da assumida pelo Governo. Peço desculpa se ofendo alguém. Mas entre a comemoração da Independência e a palhaçada carnavalesca diz-me mais a primeira. É a opção entre a identidade e o disfarce. 
No entanto, democraticamente concedo haver gostos para tudo…

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